PENSE! O DNA De Uma Cientista Potiguar

Participante do Projeto Genoma Brasileiro, autora de artigos publicados em periódicos científicos importantes, aprovações em editais de pesquisa, diversas dissertações e teses orientadas, bolsista de produtividade 1A no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), primeira agraciada pelo Prêmio Mulher Cientista da Fapern, em 2009. A trajetória de Lucymara Fassarella Agnez na UFRN é repleta de realizações, mas ainda há espaço para mais.

“Sucesso só vem antes de trabalho no dicionário”. Citando o ditado popular, a professora e pesquisadora do Departamento de Biologia Celular e Genética, atribui o Prêmio Pesquisador Destaque da UFRN 2020, na área Ciência da Vida, a uma construção coletiva. “É uma conquista de um trabalho em equipe que prima sempre pela qualidade”.

Aliás, a divisão de seus louros com o seu entorno é uma marca de Lucymara. Assim, ela exalta sua orientadora de iniciação científica na graduação em Ciências Biológicas, Eliete Rabbi Bortolini, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). “Ela me ensinou o significado das palavras determinação e perseverança”, afirma.

Professora Lucymara Fassarela, Pesquisadora Destaque 2020 – Foto: Cícero Oliveira

Da mesma maneira, relembra seu orientador de mestrado e doutorado em Biologia Genética, Carlos Frederico Martins Menck, da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Lucymara, foi com o professor que ela obteve um ensinamento muito importante. “Uma boa ideia pode vir de qualquer lugar e de qualquer pessoa; desde o mais jovem aluno de iniciação científica ao mais experiente pesquisador”.

Essa facilidade para assimilar tais lições pode ser explicada por suas origens de formação. Alimentada pelo desejo de infância de se tornar professora, Lucymara optou pela Escola Normal, em Brasília, na qual fez o curso profissionalizante para docência nas primeiras séries do ensino fundamental.

“Na Escola Normal, aprendemos primeiro a aprender, para depois aprender a ensinar, o que me deu muita autonomia. Tive o primeiro contato com autores como Paulo Freire, entendi melhor a importância e a necessidade de termos uma educação de qualidade e acessível a todos. Conhecimento é transformador e libertador, percebi que seria uma eterna aprendiz”, conta.

Também nessa época, além da professora, começou a desabrochar a pesquisadora de sucesso. Graças a uma formação forte no questionamento crítico e autocrítico, Lucymara consegue identificar o momento no qual isso aconteceu. “Na disciplina de teorias e práticas de ciências, fui apresentada ao método científico, a partir daí soube que queria ser cientista”.

E, sim, Lucymara se tornou cientista, exatamente como imaginou. Além disso, em meio a uma série de mudanças de cidade durante sua formação, saindo de Brasília, passando por Vitória e São Paulo, ela desembarcou em Natal, no ano de 1995, ainda em meio ao doutorado, para iniciar sua trajetória na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Chegada à UFRN

Após um período de licença para a conclusão do doutorado, em 1998, Lucymara assumiu suas funções na UFRN definitivamente. Com isso, pode se dizer que a história do Departamento de Biologia Celular e Genética também começou a ser transformada a partir de sua chegada.

O grupo de pesquisa do qual a cientista faz parte foi responsável pela introdução de metodologias de genômica no Rio Grande do Norte. Em 1999, foi contemplado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em edital nacional para trabalhar com a anotação do genoma da cana-de-açúcar, sendo um dos cinco grupos do Nordeste selecionados.

Já em 2000, foi a vez de concorrer e ser escolhido em chamada do CNPq. Com a aprovação para compor o Projeto Genoma Brasileiro, ao lado de outros 24, o Laboratório de Biologia Molecular e Genômica, coordenado por Lucymara Fassarella, pode ser equipado e inaugurado em 2003, contando ainda com apoio do Governo do Rio Grande do Norte e da Petrobras.

“Com a infraestrutura adquirida a partir dos projetos financiados foi possível desenvolver pesquisas em diferentes temas, em sua maioria relacionada a mecanismos de mutagênese e reparo de DNA. Gradativamente introduzimos uma diversidade de metodologias da Genética Toxicológica, Biologia Molecular e Bioinformática”, relembra a professora.

Pesquisadora atua na UFRN desde 1995 – Foto: Cícero Oliveira

Quase 20 anos depois, o trabalho da cientista continua vigoroso como ela planejou ainda na Escola Normal. Atualmente, Lucymara desenvolve duas linhas de pesquisa. A primeira trata de mecanismos de mutagênese e reparo de DNA, utilizando metodologias moleculares e bioinformática. Já a segunda estuda novos microrganismos e genes envolvidos com degradação de hidrocarbonetos e produção de biossurfactantes, com potencial para o desenvolvimento de estratégias de recuperação avançada de petróleo e biorremediação de áreas impactadas.

É justamente desta segunda que se origina uma das aprovações recentes em editais de pesquisa, o CAPES-Entre mares, no qual o objetivo é desenvolver consórcios microbianos capazes de degradar o óleo que atingiu as praias do litoral do Nordeste. Outro projeto foi contemplado pelo CAPES-Epidemias, para fazer sequenciamento do genoma viral, metatranscriptoma e transcriptoma dos pacientes, visando à obtenção de respostas sobre mecanismos associados à covid-19.

Ao escolher as Ciências Biológicas como carreira, Lucymara pensou: “Afinal, que curso pode ser mais bonito do que aquele que se propõe a estudar a vida?”. Enxergando essa beleza em suas formas mais microscópicas, a pesquisadora construiu uma trajetória de sucesso no meio acadêmico e científico e, conforme aprendeu ao longo do caminho, agradece a cada participante dessa história.

“Quando fazemos o que gostamos, vencer os obstáculos se torna menos difícil. Ao longo do tempo tive e tenho a felicidade de ter bons alunos e colaboradores. Esse prêmio é de todos que fizeram e fazem parte do Laboratório de Biologia Molecular e Genômica”, conclui a professora Lucymara, mais uma vez generosamente dividindo os méritos de suas conquistas.

 

Fonte: Marcos Neves Jr. de Agecom

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