ANSIEDADE SEXUAL: CONDIÇÃO ESTÁ POR TRÁS DA MAIORIA DAS DISFUNÇÕES NO SEXO

Apreensão excessiva na hora “H” pode repercutir em distúrbios sexuais

Embora possa ser normal, a ansiedade provocada pelo sexo, quando excessiva, pode gerar diversas disfunções
Foto: Istock

Não há desejo erótico se não houver expectativa. Afinal, sem a perspectiva de que algo bom pode acontecer, o sexo deixa de fazer sentido. Nada mais natural, portanto, que sentir aquele friozinho na barriga antes ou mesmo depois de uma transa. O problema é que, às vezes, essa sensação pode se tornar excessiva, gerando apreensão e preocupação. Então, questões incômodas podem surgir como assombrações. São temores sobre o próprio desempenho, sobre o que a parceria pensou ou vai pensar sobre você ou sobre o seu corpo. Há também quem se apavore imaginando que, moral ou religiosamente, pode estar para fazer ou ter feito algo errado. E esses pensamentos, que surgem em inesperadas torrentes, podem prejudicar severamente a troca sexual.

O quadro descrito acima resume o que acontece quando se vivencia um episódio de ansiedade sexual, condição que pode acometer qualquer pessoa e que está por trás da maioria das disfunções relacionadas ao sexo.

“Todos podem, em algum momento, independentemente da idade, experimentar ansiedade”, crava o psicólogo e terapeuta sexual Erick Paixão, detalhando que o distúrbio é mais comum nas primeiras relações sexuais – “o que, na verdade, já é esperado por se tratar de uma experiência nova e que costuma ser tão desejada”. “Mas existem características que podem aumentar a ansiedade em qualquer fase da vida, como pessoas criadas em ambientes extremamente conservadores e machistas e/ou que não tiveram educação sexual adequada”, avalia, acrescentando que pessoas que nutrem atitudes controladoras e que são perfeccionistas também estão mais vulneráveis ao problema, assim como aquelas que já sofrem com algum tipo de transtorno ansioso.

O especialista reforça que, em algum nível, sentir ansiedade antes do sexo não é um problema em si. Mas, mesmo nesses casos, é importante observar o que está por trás dessa emoção. “O maior problema é quando essa sensação é experimentada imediatamente antes e/ou durante a relação sexual”, salienta. “Como a ansiedade promove alterações no funcionamento físico do corpo, ela vai alterar também a forma como nós respondemos aos estímulos eróticos”, pontua, situando que pensamentos derrotistas e preocupações e medos relacionados à relação sexual e às suas consequências são os principais motivadores desse comportamento disfuncional.

E as consequências podem ser graves. “Grande parte das disfunções sexuais vem acompanhada de ansiedade”, destaca Paixão, ponderando que uma primeira experiência ruim pode gerar ainda mais nervosismo, fazendo que o sujeito entre em um círculo vicioso de vivências sexuais nada agradáveis.

“Tendo em vista que a ansiedade está relacionada a preocupações, uma experiência negativa pode gerar medo de ter novas experiências ruins. Logo, toda vez que a pessoa for exposta a novas relações, ela ficará ansiosa. Por conta disso, muitos homens podem desenvolver disfunção erétil ou ejaculação precoce, enquanto as mulheres, por não conseguirem relaxar, podem apresentar secura vaginal e baixa excitação e ter dificuldade em chegar ao orgasmo”, destaca. “E, além do sofrimento gerado no ato, o pós também é bastante sofrível, pois é quando começam as interpretações negativas do ocorrido e seus possíveis desdobramentos”, comenta, lembrando que tais fenômenos podem minar a autoestima e levar a comportamentos de evitação, por exemplo.

Armadilhas 

Os quadros de ansiedade sexual podem ser agravados diante de tentativas mágicas de solucionar problemas decorrentes dessa condição. “Existem armadilhas que podem piorar essa situação. Uma delas, no caso de disfunção erétil, é se automedicar. A pessoa vai se sentir segura por estar medicada. E, com isso, provavelmente, se sentirá menos ansiosa, tendo, portanto, uma ereção satisfatória. Entretanto, no dia em que não usar a medicação, a preocupação volta e a ansiedade também. Ou seja, o problema não foi resolvido, e o sujeito se torna refém de um remédio”, comenta o terapeuta Erick Paixão, lembrando, ainda, que esse tipo de produto pode gerar efeitos adversos.

“No caso da anorgasmia, a mulher pode imaginar que fingir que tem orgasmo seria uma solução, principalmente se ela receber feedback positivo de sua parceria. Então, sem encarar o problema, há chances de que essa situação permaneça por muito tempo. Há também aqueles que fazem uso de álcool para relaxar e conseguir chegar lá”, lembra. “Enfim, existem várias estratégias que, em curto prazo, parecem ajudar, mas que, em longo prazo, além de não resolver o problema, podem trazer graves danos psicológicos e biológicos para a pessoa”, reforça.

Tratamento e prevenção 

“Buscar informações corretas e repensar as formas de se relacionar são o ponto principal para começar a superar esse problema. Então pesquise, leia sobre o assunto, questione as crenças e ideias preconcebidas. Além disso, deixe de se pressionar, de se autocobrar e exercite a autocompaixão, entendendo que todos somos vulneráveis. Essas atitudes já vão ajudar muito”, avalia Erick Paixão, destacando ser importante a ajuda de profissionais qualificados, como ginecologistas e urologistas, além de psicólogos especializados em atendimento a transtornos e disfunções sexuais.

O psicólogo ainda destaca que, para os que já estão desenvolvendo ou já desenvolveram alguma disfunção, é fundamental buscar tratamento rapidamente. “Quanto mais demora para solucionar o problema, mais ele se cristaliza”, expõe.

Preventivamente, ele sugere que o tema sexo e sexualidade seja tratado com naturalidade. “É de extrema importância, também, a educação sexual. Acredito que, se as pessoas tivessem informações corretas desde jovens, muitas crenças equivocadas não existiriam, e nós, terapeutas sexuais, não teríamos metade dos pacientes”, reforça.

 

Por ALEX BESSAS, dO Tempo

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