APÓS PRISÃO POR SUSPEITA DE SONEGAÇÃO, FUNDADOR DA RICARDO ELETRO VIRA COACH DE NEGÓCIOS

Mentoria com Ricardo Nunes, que foi preso acusado de sonegar R$ 387 milhões, custa R$ 10 mil

No curso ‘Empresa Milionária’, Ricardo Nunes usa metodologia baseada em “respeito, gratidão e humildade’ Foto: Reprodução/Instagram

Ricardo Nunes ainda quer convencer você a comprar. Não mais eletrodomésticos, mas a ideia de um empreendedor imbatível, que tem muito a ensinar a aspirantes a empresário.

Fundador das gigantes varejistas Ricardo Eletro e Máquina de Vendas, ele passou do comerciante que aparecia na TV, louco para fechar negócio, a uma espécie de “guru do empreendedorismo”, com ares de coach, nas redes sociais, e cobra até R$ 10 mil para ensinar seus truques.

Nos cursos, os alunos pagam esse valor por um final de semana com o mineiro para aprender a gerenciar uma “empresa milionária”.

Enquanto isso, o negócio que ele mesmo fundou está em recuperação judicial devendo R$ 6 bilhões – Nunes chegou a ser preso no ano passado, acusado de sonegar R$ 387 milhões em impostos na Ricardo Eletro.

Nada disso parece ter abalado o mineiro. Para manter o perfil de empreendedor nas redes sociais, Nunes faz questão de dizer que não participa mais da Ricardo Eletro, mas ainda se vangloria dos números alcançados quando ela batia recordes de vendas.

Os indicadores do passado são a carta na manga para ressaltar a importância dele no meio varejista.

“Tive 1.100 lojas, 20 centros de distribuição, empreguei 45 mil pessoas, tínhamos R$ 200 milhões de folha de pagamento, imprimíamos 65 mil notas fiscais e contávamos com um faturamento de R$12 bilhões ao ano”, contabilizou Nunes durante uma dessas lives.

‘Missão’

Nunes diz que sua “nova missão de vida” é promover a geração de renda em massa no Brasil. Em pleno feriado da Independência, entre os dias 6 e 8 de setembro, Nunes ministrou, por meio de uma transmissão ao vivo em seu perfil no Instagram, o curso online e gratuito “Empresa Milionária”, com uma hora diária.

A reportagem de O Tempo participou de três dias de palestra, que chegaram a ter diariamente picos de 900 pessoas online.

No curso, em um ambiente sem localização precisa, Nunes se empolgava enquanto explicava uma metodologia de vendas baseada em quatro pilares: respeito, gratidão, humildade e cuidado com a vaidade.

Frente às câmeras em um espaço pequeno, porém muito bem equipado, com um telão em que aparecia o nome do curso rodeado por uma chuva de moedas de ouro, e contando com a ajuda de uma equipe de assessoria pessoal, Nunes fez questão de valorizar sua origem pobre na cidade de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, quando abriu com dificuldades, segundo ele, sua primeira lojinha.

Como é de praxe em suas entrevistas e palestras, ele falou de modo simples sobre suas adversidades como empresário novato até chegar a números astronômicos de sucesso.

O curso é apenas a introdução para uma mentoria com o empresário, que será iniciada com dois encontros presenciais em Belo Horizonte ainda neste mês. Com 70 vagas, apenas quatro estavam disponíveis até a última quarta-feira (15), sob o preço de R$10 mil – ou R$ 7.000 por pessoa em grupo de quatro integrantes.

A reportagem não conseguiu contato com a Máquina de Vendas.

RICARDO NUNES ATRIBUI ‘ERROS’ A TERCEIROS
Fracasso é uma palavra fora do vocabulário de Ricardo Nunes, pelo menos durante as horas em que passou em frente às câmeras no Instagram.

Ele diz que cumpriu sua missão à frente da Ricardo Eletro e, sem citar nomes, atribui a outras pessoas o insucesso do império que carrega o nome dele.

“Até 2013, quando eu estava no negócio, minha empresa era sólida. Quando a empresa era minha, ela só voava. Não sou o responsável hoje. Sei até quando toquei”, disse no curso.

Para o Ministério Público, porém, Nunes ainda parece ter contas a acertar em nome da empresa. O órgão entrou com dois processos contra ele, suspeito de sonegar ICMS entre 2012 e 2017, na soma de R$ 387 milhões.

Em 2020, Nunes chegou a ser preso, junto com a filha, Laura Nunes, pela operação Direto com o Dono. Ele foi solto um dia depois, após prestar depoimento, mas o processo ainda corre na Justiça.

Além de dois processos correntes, ele é alvo de um inquérito criminal, também relacionado a questões tributárias, segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).

Há, ainda, ações da iniciativa privada contra ele, como um processo movido pelas Organizações Globo. Com processo sob sigilo, os advogados da empresa não revelam os motivos exatos da disputa, mas foi na Rede Globo que Nunes marcou uma nova fase de sua carreira, com publicidade no programa “Caldeirão do Huck”.

‘SE QUISER, EU FAÇO UM VAREJO GIGANTE’
O empresário mineiro Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro, apareceu pela primeira vez no ranking de bilionários da revista “Forbes” em 2013, quando acumulava uma fortuna de cerca de R$ 1,31 bilhão.

Nunes, no entanto, não voltou a figurar na lista depois de 2015. No curso que ministra nas redes, ele não comenta sua vida financeira, mas garante que não está falido.

“Há pouco tempo, tive a oportunidade de montar uma empresa de supermercados gigante, mas não quero; quero ensinar vocês. Se eu quiser fazer um varejo gigante, eu faço. Mas eu escolhi estar aqui com vocês”, disse durante a live “Empresa Milionária”.

No último mês, a penhora de alguns bens de Ricardo Nunes, como um piano de cauda, estátuas e até aparelhos de ar-condicionado, ganhou o noticiário.

A penhora faz parte de um processo das Organizações Globo contra ele, que gira na casa dos R$ 60 milhões, mas o valor dos itens penhorados chega a cerca de R$ 213 mil.

Segundo uma fonte ligada ao caso, a grande dificuldade dos advogados é mensurar o real patrimônio de Nunes, que, segundo dados da Receita Federal, ainda consta como sócio de uma série de holdings – empresas que possuem participação em outras empresas.

“Se a Justiça entrasse na minha casa, que tenho muito menos patrimônio, conseguiria mais do que levou do Ricardo”, diz a fonte, que pediu anonimato.

FONTE: O TEMPO

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *