“Bares da Vida”: um passeio pela Natal antiga (Elza Bezerra Cirne)

Hotel dos Reis Magos em Natal – foto capturada no site www.curiozzzo.com

A minha relação com a bike parece um eletrocardiograma. Por vezes ela está em alta e bastante solicitada; outras vezes permanece em baixa, esquecida na garagem, mas pronta para qualquer emergência, basta encher os pneus.

Por mais estranho que possa parecer, em tempo de isolamento social, estamos começando uma nova relação. Não só para que eu possa praticar uma atividade física ao ar livre, mas também para tentar controlar as taxas de colesterol. Tentando entrar no ritmo, sigo pedalando nas ruas próximas ao entorno da residência.

Numa dessas pedaladas, passo em frente a uma mercearia/bar de esquina. Seus frequentadores assíduos estão firmes e fortes no papo, sem dar trela ao coronavírus. Escuto bem quando um falante joga a indagação no ar: é melhor ser político ou corno? Curiosa como sempre fui, dei meia volta para tentar entender a pergunta e escutar a resposta.

A indagação diz respeito a quem seria mais xingado atualmente. Na filosofia de botequim, a resposta chega rápido: é melhor ser político, só é xingado durante quatro anos; o corno é vitalício, permanece com o título para o resto da vida.

Continuei a pedalada morrendo de rir com a conversa, tentando descobrir o nome da mercearia sem letreiros. Ainda na mesma semana, a conversa de um grupo de WhatsApp, reunindo os amigos da rua da infância e adolescência, girou em torno dos bares de Natal nas décadas de 70 a 90.

A minha primeira dúvida foi lembrar o nome da boate do Hotel Ducal, localizada no térreo, do lado direito. Lembraram logo do show de striptease, mas foi difícil acertar o nome da boate, só recordavam o nome da stripper. Por fim, chegaram a Sanuk, palavra em tailandês, sem tradução específica para o português, mas que tem a ver com diversão. Nome plenamente justificado.

A conversa logo se transformou em sessão nostalgia sobre as lanchonetes, restaurantes e bares da cidade entre os anos 70 e 90. Kyxou, Sorveteria Big Milk, Bom Lanche na João Pessoa, Casa da Maçã, Amor à Torta de Iran e Cristina Lamas, Nick (ainda por trás do Cinema Nordeste), caldo de cana de Picado e Bom Bocado na Rua Açu, Paulista de Gilvan (que depois virou Barramares) e o cachorro quente do Souza na Deodoro foram relembrados.

Dos lanches, uma rápida passagem pelos restaurantes Xique-Xique, Nemésio Crustáceo e o Mirante na Ladeira do Sol, de Alcyony Dowsley, que também era proprietário do Motel Tahiti e espalhou muita propaganda em pontos estratégicos da cidade com tiradas inteligentes.

No quesito bares, o Tob’s no CCAB foi lembrado, tendo como seus proprietários iniciais Flávio Tonelli e Marcelo Barreto. Depois foi vendido para Tota, irmão de Flávio. Na sequência da conversa, mas sem observar a ordem cronológica de existência, falaram do Scret, esquina da Afonso Pena com a Maxaranguape, onde Ted, um baixinho e gordinho, trabalhava como garçom. O Cascalhinho de Sérgio Freire também veio à memória, que depois virou a churrascaria Brasão. O Iara Bar, Liberté, Tenda do Cigano, Stop, Love, Chernobyl, Pot’s, no posto localizado na esquina da subida para La Prision, Boteco na praia, Beer House, Katikero, Castanhola Bar e Reizinho Praia Chopp no Hotel Reis Magos – todos vieram à tona.

A conversa empacou no nome do bar que tinha redes como cadeiras em Areia Preta. Surgiram várias opções até chegar em Qualquer Coisa, mas aí o sono chegou e os boêmios de antigamente silenciaram. A conversa ficou em suspense, aguardando a retomada no dia seguinte, feito papo de botequim, onde vale filosofar sobre qualquer assunto, o importante é justificar a presença nos bares da vida.

Fonte: elzabezerra.com.br

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Comentários (5)

  • Natanael Sarmento Responder

    Um belo passeio de bicicleta pelas ruas e ruelas da memória dos bares de Natal dos anos 70. Justamente a década do meu exílio, o que explica só conhecer do imenso rol de bares arrolados a “Tenda do Cigano” que ficava na Praia do Meio, por trás do recém inaugurado Hotel dos Reis Magos, salvo erro de memória. Agradeço a autora pela atualização do “antigo” para um mais antigo, dos bares nos anos 60… Taboleiro da Baiana, Confeitaria Delícia,do lusitano Olívio, Bar da Tripa de Toinho na XV de Novembro, Quitandinha no Alecrim, Tico-Tico na estrada de Ponta Negra, então, de areia, Paixada Potengi, Cabanas, dentre outros, de saudosa memória.

    12 de agosto de 2022 at 11:19
  • Rubens pinto neto Responder

    Ficou de fora o Stop, no início da Ângelo Varela.

    12 de agosto de 2022 at 06:33
  • Otácio Junior Responder

    *… de cuja beleza…nunca… pude esquecer.

    11 de agosto de 2022 at 07:49
  • Otácio Junior Responder

    Elza Bezerra, a conheci Elzinha, quando ela tinha seus 12 ou 13 anos, num veraneio de Muriu. Difícil um adjetivo para descrever tamanha beleza em um menina mulher do seu tamanho. Talvez bonequinha da cor de chocolate ao leite. Ou, belo pequeno poema escrito pelas ondas da praia de Muriu. Pequeno poema da cor do mais bonito dentre os mais bonitos pores do sol. Ou, ainda, Afrodite adolescente da cor de café forte com leite Moça. Mais, esbelta elegância da cor de um marrom divino. Elza, diminutivo de Elizabete, que pode significar “Deus dá”, em hebraico. E Deus, realmente me deu a sorte de poder desfrutar a visão de uma figura tão maravilhosamente bela. Também significa, no dicionário mais sensível “Deus é abundância”, certamente abundância de beleza feminina. Numa lenda germânica, Elza é intepretado “virgem das águas, dos cisnes”, o mais formoso cisne, da cor e da doçura de mel de engenho. Gostaria de saber descrever a esplêndida beleza da bela Elza, Elzinha, que nunca pode esquecer. Esta foi uma pequena tentativa.

    11 de agosto de 2022 at 07:30
  • ORMUZ BARBALHO SIMONETTI Responder

    Muito bom, parabéns. Senti falta do Dia e Noite do famoso harçon Gazolina e do Caindão na praia de Areia Preta.

    11 de agosto de 2022 at 07:02

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