Como a observação de planetas ajudou na inclusão de autistas no mercado de trabalho

 
Texto: Vilma Torres
Fotos: Pexels e MIT
Encontrar planetas que possam ter alguma similaridade com a Terra talvez seja o principal desafio da Astronomia. Foto: Pexels

Já foi dito que a busca por exoplanetas – ou seja, planetas situados fora do Sistema Solar e que não orbitam o nosso Sol – com condições físicas e químicas de habitabilidade, talvez represente um dos principais desafios da Astronomia moderna. Encontrar planetas que possam, quem sabe, ter alguma similaridade com a Terra, é o principal objetivo de inúmeros satélites e instrumentos instalados em telescópios por todo o globo. Um desses satélites, o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), cujo projeto conta com o apoio de cientistas brasileiros, acabou descobrindo muito mais do que planetas e estrelas.

 

Os astrônomos José Renan de Medeiros, Bruno Leonardo Canto Martins e Izan de Castro Leão, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), chamam a atenção para um aspecto diferenciado no trabalho conduzido em terra, que é a contribuição da pesquisa para a formação e empregabilidade de pessoas autistas, através do Frist Center for Autism and Innovation, um centro de pesquisas sobre neurodiversidade sediado na Vanderbilt University, no Tennessee, Estados Unidos.

O Centro agrega cientistas, engenheiros e especialistas em neurociências e educação com o objetivo de identificar e estimular pessoas autistas a trabalharem com padrões de imagens e cores. O Frist reúne pesquisadores e profissionais com deficiência para maximizar e promover o talento dos autistas: focando nos pontos fortes e não no déficit do indivíduo, direcionando assim as mudanças para a inovação em tecnologia e nas práticas de trabalho.

Sabendo que alguns autistas têm a capacidade de entender padrões em cores e imagens em um nível superior, o Frist Center passou a usar uma plataforma conhecida como Filtergraph para identificar pessoas com tais habilidades, oferecendo a estes indivíduos formação complementar e ferramentas para que estas possam se especializar e atuar profissionalmente executando tarefas como análise de imagens ou cores em alto padrão.

Frist Center passou a oferecer a indivíduos com autismo formação complementar para que pudessem se especializar e atuar profissionalmente. Foto: Pexels

 

“Essa plataforma foi inicialmente criada por astrônomos que precisavam de algo que os ajudasse no estudo dos exoplanetas, mas depois ela incorporou contribuições de várias áreas de trabalho como a Física, Geologia, Engenharia e Jornalismo. Quem sabe um dia isso chegue no Brasil”, diz o astrônomo e professor da UFRN José Renan. O professor José Renan desenvolve atividades em Astronomia Observacional, com ênfase em instrumentação, espectroscopia, evolução estelar e exoplanetologia. Ele também é autor ou co-autor da descoberta de 13 exoplanetas.

TESS

O satélite TESS já identificou duas mil estrelas orbitando objetos com características de planetas. Foto: MIT – Massachusetts Institute of Technology 

 

Até o momento, o satélite TESS identificou duas mil estrelas orbitando objetos com características de planetas. O grupo de pesquisadores da UFRN publicou artigo no periódico americano Astrophysical Journal Supplement Series, onde anunciaram um diagnóstico pioneiro sobre as características físicas de mil estrelas observadas pelo TESS, incluindo medidas de períodos de rotação, identificação de erupções e pulsação e possíveis níveis de atividade magnética.

Os resultados indicaram quais estrelas oferecem uma melhor perspectiva para monitoramento e estudos sobre as características físico-químicas de seus sistemas planetários, incluindo suas potenciais condições de habitabilidade. Esses resultados podem ajudar na definição de critérios observacionais para diferentes técnicas de diagnósticos, incluindo imageamento direto dos planetas. O artigo pode ser acessado aqui e aqui.

A missão TESS se estende por mais dois anos. Por esse motivo os pesquisadores potiguares optaram por um estudo contínuo e realizar o diagnóstico de outros planetas detectados pelo satélite, mantendo a base de dados atualizada e disponível para a comunidade científica internacional. A base de dados se encontra disponível na plataforma Filtergraph.

 

Gerenciamento de Dados

O Filtergraph, por definição, é uma ferramenta online interativa para visualizar grandes conjuntos de dados. Embora tenha sido originalmente projetado para atender às necessidades dos astrônomos em uma ampla variedade de projetos, a ferramenta pode ser usada também para gerenciar dados em qualquer situação em que a visualização de dados em grande escala seja necessária, incluindo pesquisa acadêmica e jornalismo baseado em dados.

A plataforma, em autodefinição online, diz querer inspirar crianças e jovens adultos autistas em suas carreiras, pois “muitas pessoas autistas têm a capacidade de entender padrões em imagens em um nível superior. Se pudermos desenvolver os testes para identificar essas pessoas, podemos prepará-los para empregos de longo prazo, realizando tarefas semelhantes”, explica o site.

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *