CORDEL: A LITERATURA DO POVO PARA O POVO

 

“A literatura nasceu em versos, eram canções, poemas.”

Por Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto

No fim do século XII os trovadores portugueses traçaram um caminho que perdura até nossos dias. Este Movimento com características próprias e permanentes é enriquecido por exclusivas e marcantes influências étnicas e culturais europeias e árabes, resultado das frequentes incursões ocorridas no país, seu ponto mais alto ocorreu na segunda metade do século XIII.

Essas poesias nada mais eram do que canções, versos cantados. Assim, não podemos pensar num leitor solitário, pois a plateia era formada de vários ouvintes,

Enquanto não se difundiu a tipografia, foi essa a forma que a poesia popular encontrou para se divulgar. Se na Idade Média, os jograis populares ou palacianos, cantando nas festas e animando o povo, constituíam a comunicação entre as pessoas, com o passar do tempo, tais formas foram se transformando.

Apesar de séculos terem se passado, o trovadorismo sobreviveu, mesmo sendo modificado em sua forma, mas na sua essência, continuou o mesmo, com os mesmos temas, mesma finalidade.

Os trovadores e menestréis iam de castelos em castelos, de cidades em cidades difundindo suas obras em versos, suas cantigas, suas histórias, aproximando pessoas, repetindo refrões, improvisando, desafiando, pelejando, competindo entre si, numa verdadeira interação com a população.

No Brasil, a poesia medieval chegou junto à bagagem dos nossos colonizadores, uma vez que, para cá vieram militares, estudantes, intelectuais, literatos, poetas, enfim, um vasto grupo de apreciadores de poesia, e aqui se fixou como Literatura de Cordel.

O nome Literatura de Cordel é derivado do fato de serem folhetos presos por um pequeno cordel ou barbante, em exposição nos lugares onde eram vendidos. Cabe ressaltar que, esse tipo de literatura também marcou a cultura francesa, onde era chamada de “littèrature de colportage”. Na Espanha, eram os “pliegos sueltos” e em Portugal, “folhas volantes”.

Esse tipo de literatura é responsável pela perpetuação de lendas, contos e folclore, bem como das narrativas típicas da imaginação popular e fatos históricos nacionais. Apesar dos altos índices de analfabetismo no passado. A popularização dessa literatura foi possível porque os poetas cordelistas atuavam, como os trovadores medievais, nas feiras e praças, muitas vezes ao lado de músicos. Folhetos de literatura de cordel já serviram para alfabetizar muita gente.

Além desses temas, há também cordéis que falam de amor, relacionamentos pessoais, profissionais, personalidades públicas, acontecimentos e fatos do cotidiano etc. São espontâneas composições de poetas populares, que relatam fatos, causos, estórias e histórias, às vezes humorísticas e de ficção. No Brasil, entre as décadas de 30 e 50, a literatura de cordel atingiu seu melhor momento, tornando-se realmente popular. Como as cantigas medievais, o cordel é mais fácil e mais agradável, quando o comparamos a outras produções, possibilitam também o resgate de informações e temas recorrentes, numa linguagem simples e compreensível.

Todos os textos são ecos de outros textos: eles são reescritos, reinventados, reaproveitados e a literatura está constantemente, em diferentes lugares e épocas, apropriando-se desses ecos e sendo reescrita. Muitas vezes, cordelistas jamais tiveram acesso às obras de outros, seja por distância geográfica ou temporal e, mesmo assim, suas produções são consideradas cópias de outros trabalhos.

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