CURRAIS NOVOS: “SOU DO TEMPO DE…” (MINERVINO WANDERLEY)

No Brasil, a maior produção histórica de scheelita ocorreu no estado do Rio Grande do Norte, na região do Seridó, especialmente no município de Currais Novos – REPRODUÇÃO

Tem gente que não gosta de ouvir alguém contar uma história começando com “Sou do tempo em que…”. Pois eu sou do tempo em que as pessoas só começavam assim. Quer ver como fica melhor contar algo de outrora usando esse começo? Ou você é não desse tempo? Pois…

Sou do tempo em que Currais Novos era cheia de estrangeiros que vinham trabalhar nas minas; sou do tempo Fernando Pipoco, que vendia explosivos para as tais minas; sou do tempo de Dr. Sílvio, que tanto fez pela terra e que ajudou a muita gente; sou do tempo de Dr. Cristovam, austero Juiz de Direito, que botava moral na cidade, mas obedecia ao juiz da pelada sem reclamar; sou do tempo de Raimundo Cruz e Dona Alcina.

Sou do tempo em que Siderley mordeu o dedo de um juiz que roubou o seu querido Potyguar num jogo contra um time de Natal; sou do tempo em que Zé da Bomba era dono do único posto de combustíveis da cidade; sou do tempo de Amadeu e Manoel Venâncio, prósperos comerciantes; sou do tempo de Seu Andriola da Farmácia; sou do tempo de Júlio e Hosana, casal que tomava conta da AABB; sou do tempo de Sales Mamede; sou do tempo de Zé Fantasma; sou do tempo de Dona Benedita; sou do tempo de Zé Mendes; sou do tempo de Vilany, de Tom; sou do tempo de Eduardo, o radiologista; sou do tempo da Esquina do Pecado – reduto da fofoca -; sou do tempo de Navarro e de mais um bocado de gente boa!

Sou do tempo em que Currais Novos era cheia de belas mulheres. Não vou nominar porque mulher vocês sabem como elas são, não é verdade? Abro apenas exceção para Ilona de Sá Ximenes, casada com meu amigo Ximenes, que, ao passar, deixava um rastro de beleza e simpatia onde quer que fosse. É a nossa eterna miss.

Sou do tempo das Festas de Santana e das vaquejadas; sou do tempo em que Ricardo Saldanha se achava o playboy da cidade. Grande figura! Ele e Rostand, filho de seu Ubaldo, um homem sério como poucos; sou do tempo de ouvir rock com Gilmar, de Zé Fantasma; sou do tempo das domingueiras na beira do Totoró ou do Caça e Pesca; sou do tempo de Mariano do Cartório, de Mago Jairo; sou do tempo que a cidade tinha  ótimos jogadores de futebol de salão: Lucemário, Soarinho, Jesean, Oliveira, Telmo, Chaguinhas, João Batista, Galego Ivanildo, Leão, Chico Amarelaço, Buru, Toxó, entre outros.

Sou do tempo em que Eliel Bezerra era o cronista social e Raimundinho era o cabeleireiro do “High Society” currais-novense; sou do tempo das festas de Agenor Martins, fiscal do setor agrícola do BB, que tinha um gosto refinado. Os convites eram disputados como se fossem credenciais para participar da chamada “sociedade”. Ainda bem que ele gostava de mim e eu dele. Eu adorava o whisky de 12 anos pra cima e da companhia de amigos. Esse negócio de sociedade não era muito do meu querer. Mas respeitava quem ostentava. Cada qual faz o que gosta. Sou também do tempo de Marcelino, o outro fiscal. Sou do tempo de tantas boas lembranças…

Sou do tempo de viver numa cidade na qual a amizade era superior a qualquer riqueza material. Se “scheelita” valia muito, então eu digo, com tranquilidade, que cada um dos filhos daquela terra eram verdadeiras pedras preciosas.

Um grande e fraterno abraço!

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Comentários (2)

  • Iracema Lacerda Responder

    Não sou nascida em Currais Novos mas vivi a maior parte do escrito. Era exatamente dessa forma. A disputa era muito boa. Uns já foram para outras cidades ou para eternidade, mas os que estão aqui são pessoas maravilhosas

    16 de fevereiro de 2022 at 13:44
  • Fernando Albino Responder

    Parabéns Minervino pelas lembranças, belo texto????

    16 de fevereiro de 2022 at 11:58

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