Dos 0.7 aos 7.0 (Minervino Wanderley)

Impossível completar setenta (70) anos e não sentir saudades. De tudo. Espio pelo retrovisor da vida e vejo os tempos de criança; sinto os carinhos e afagos de mamãe e meus irmãos. Ser o caçula de uma família grande tem essas vantagens.

Não falei de papai porque, quando ele foi ao encontro de Deus, eu tinha seis anos e as lembranças que ainda tenho dele são muito vagas. A benção, papai! Uma infância relativamente boa.

Mas é ótimo começar a adolescência com uma música de Paulinho da Viola: “Tinha eu catorze anos de idade, quando meu pai me chamou. Perguntou-me se eu queria estudar Filosofia, Medicina ou Engenharia. Tinha eu que ser doutor”.  Papai não, mas mamãe gostou da música e disso ela não abria mão.

Mas a minha aspiração era outra.

Ora, estávamos em plena mudança de costumes. O mundo se transformava nos embalos de Beatles e Rolling Stones. Tinha a enorme repercussão do Festival de Woodstock, todos eram contra a Guerra do Vietnã, e o lema era Paz e Amor.

Amor livre, cabelos compridos, roupas extravagantes, gente do todos os lugares, como se o mundo tivesse virado uma adorável Babel. As músicas de Jimmy Hendrix, Led Zeppelin, The Who, Deep Purple, Janis Joplin, Bob Dylan, tocavam em qualquer esquina.

Estava bem difícil ser doutor, Dona Martha!

O que eu queria mesmo era ser “hippie”. Resolvi até ir para São Francisco, na Califórnia, então o paraíso dessa turma. Com um detalhe: a pé! Coisa de maluco mesmo. Foi um Deus nos acuda.

Porém, um concurso para o Banco do Brasil mudou o rumo do sonho. Minha ideia era ficar um ano no BB, juntar grana e ir para São Francisco. Que nada! Com dinheiro no bolso, comprei um fusca e pedi transferência da querida Currais Novos para Natal. São Francisco ficava cada vez mais longe. E eu começava uma nova etapa da vida.

Passei a frequentar bares e restaurantes para encontrar os amigos. Kazarão, Raro Sabor e Bella Napoli foram os mais marcantes. Nas décadas de 1980 e 1990, Natal era ainda carente de casas assim. Era até bom, já que eu podia ir a qualquer um desses lugares que encontrava conhecidos/amigos para dividir mesas e multiplicar risadas.

O importante é que essa rede de amigos tricotada ao longo da minha caminhada ainda está guardada nos dois lados do peito – um é pouco.

Arrependimentos? Claro que tenho! Mas são facilmente suplantados pelas boas escolhas feitas. Assim é a balança da vida. Hoje, posso dizer que a minha pesou para o bem.

Porra! Setenta anos é uma idade que nunca pensei em chegar. Para mim, antigamente, o septuagenário era um ancião encurvado com uma bengala na mão, que nem umas placas que existiam para identificar o IDOSO.

Sinto-me bem de saúde. Continuo gostando de carnaval, música, futebol e outras coisas. Não parei em nada! Ficou claro?

Finalmente, como falamos de idade, relato uma passagem de Churchill, que foi mais ou menos assim: um repórter foi às comemorações dos seus oitenta anos e, querendo ser agradável, disse ao fotografá-lo “Senhor, espero repetir isso quando o senhor completar noventa anos.” Churchill respondeu “Por que não? Você me parece bem de saúde!”.

Um beijo e inté!

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Comentário (1)

  • Roberto Aladim Responder

    belo texto amigo Minesva, combina com quase todos de nossa idade

    5 de julho de 2024 at 16:14

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