Duelo Macron-Le Pen: jovens franceses não querem escolher entre o inferno e o purgatório

Muitos jovens em França decidiram não ir às urnas no dia das eleições.

Forte abstenção eleitoral entre jovens – Direitos de autor: Thibault Camus/Copyright 2022 The Associated Press

Em entrevista à euronews, Gaspard Hermann, jovem francês de 24 anos, criticou o facto de os eleitores serem frequentemente forçados a votar contra um candidato. Um problema que afeta um número elevado de eleitores que deverão escolher o próximo presidente, este domingo. Há apenas duas possibilidades: a candidata de extrema-direita Marine Le Pen ou o candidato de centro-direita Emmanuel Macron.

Vários candidatos derrotados na primeira volta exortaram os seus apoiantes a votar em Macron, para impedir a extrema-direita de governar o país.

O candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon (A França Insubmissa) que ficou em terceiro lugar nas eleições, disse aos seus apoiantes para não votarem em Marine Le Pen, sem dizer se votaria em Macron ou se se absteria.

A candidata do partido anti-capitalista Luta Operária, Nathalie Arthaud, que ficou em último lugar na primeira volta, afirmou que Macron e Le Pen eram ambos “inimigos” e que votaria em branco.

Muitos dos jovens que decidiram abster-se na primeira volta afirmam que não se sentem representados politicamente. “Não me revejo no atual sistema presidencial e na forma como funciona, em particular, a incapacidade de ter em conta a abstenção e os votos em branco, ou a escolha dos candidatos”, afirmou à euronews uma jovem de 28 anos, que trabalha para uma administração pública nos arredores de Lyon e que quis manter o anonimato. É uma das muitas jovens entre os 18 e os 34 anos que não votaram na primeira volta da eleição presidencial.

Uma das taxas de abstenção mais baixas de sempre

“Não vou votar na segunda volta. Considero sempre a possibilidade de votar na primeira volta, pois há mais candidatos que poderiam corresponder-me, para fazer ouvir a minha voz”. Mas na segunda volta, não quero escolher entre o inferno e o purgatório”, acrescentou a jovem.

Este ano, a participação eleitoral foi uma das mais baixas de sempre em comparação com as anteriores eleições presidenciais. Mais de um quarto dos eleitores não compareceram às urnas na primeira volta.

Em 2022, “a taxa de abstenção em França foi superior à de 2017″, afirmou Tristan Haute, professor de ciências políticas na Universidade de Lille.

Tristan Haute considera que poderia ter sido pior tendo em conta o contexto de pandemia e a guerra na Ucrânia que afetaram a campanha.

Entre os jovens com 25 a 34 anos, a taxa de abstenção foi de 46%, de acordo com uma sondagem Ipsos realizada após a primeira volta. Na faixa etária dos 18-24 anos, a taxa de abstenção foi de 42%.

“Para as gerações mais jovens, o voto é visto como uma prática de participação menos eficaz”, afirmou Haute. O especialista francês da abstenção eleitoral considera que o fenómeno tem várias causas.

“Há pessoas que não votam porque não se sentem representadas e há pessoas que não se sentem capazes a nível político de dar uma opinião”, sublinhou Haute. A abstenção é mais elevada entre a classe trabalhadora, entre as pessoas menos diplomadas, com contratos precários ou desempregadas.

A correlação entre exclusão social e exclusão política

“Há uma ligação entre exclusão social e exclusão política”, afirma Haute.

A euronews entrevistou Hermann que trabalha numa estação de esqui em Tignes. O jovem francês diz que não há políticos que tenham um trabalho manual. Por isso, os políticos não podem compreender compreender a situação dele. Afirma que muitos políticos estudaram juntos e são oriundos do mesmo meio social e não sabem o que é ter de trabalhar todos os dias para ganhar a vida. Está zangado porque considera que os políticos não cumprem as promessas.

Um ponto de vista partilhado por Maxime Bricaud, um carpinteiro de 21 anos.

“Eles não se interessam pelas pessoas da classe trabalhadora, pelas pessoas desfavorecidas. Fazem muito pelas pessoas que têm mais dinheiro. Os jovens não são levados a sério, apesar de sermos o futuro do país”, disse Maxime Bricaud.

“Não fazem muito para ajudar-nos a facilitar as nossas vidas. Não nos preparam para a vida profissional e só querem que trabalhemos mais”, afirmou o jovem numa referência à proposta de Emmanuel Macron de passar a idade da reforma para os 62 anos.

Maxime Bricaud considera que não tem havido mudanças na política. “Muitas vezes são os mesmos candidatos durante anos”, disse Bricaud.

Adrien Humbert trabalha na área do marketing. “Não acredito na acção política ou, pelo menos, nos benefícios da acção política”. Para o jovem de Lyon a única coisa importante é o ambiente, mas não votou na primeira volta porque os Verdes não teriam tido qualquer hipótese de vencer a eleição presidencial.

Os Verdes obtiveram menos de 5% dos votos. Por isso, segundo a lei francesa, não terão direito ao reembolso das despesas da campanha eleitoral.

Humbert não pretende votar na segunda volta e afirma que Macron deverá provavelmente ganhar as eleições. “O meu voto não iria mudar muito”, alega o jovem. Humber considera que a população francesa não está preparada para as mudanças necessárias para travar a crise ambiental. “Não é uma questão política, é uma questão de vontade pessoal. Para mim, a ação é algo individual e o indivíduo só muda se o educarmos”.

Da Euronews

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