Por Celso Cruz
Eu vi, eu juro que vi
Num lugarejo lá nas brenhas do sertão
Era um pai, uma mãe e tanto irmão
Que a mãe só contava na dormida
Embora pouca e simples tinha comida
O luxo era, dormir de barriga cheia
Tinha café, tinha almoço, tinha ceia
Nos domingos tinha missa na igreja
Ao voltar, no futebol tinha peleja
Perto de casa num campinho de areia
Casa pequena, mas porém aconchegante
No café, leite cuscuz, ovo e pão
No almoço, tinha sempre arroz, feijão
Ver tanto irmão era uma coisa bonita
Às vezes a carne aparecia pra visita
Não demorava para ela se ausentar
Ninguém sabia quando ela ia voltar
Mas mandava em seu lugar a rapadura
O ovo chega sem avisar e se mistura
Tinha galinha se tinha alguém a visitar
Nos domingos, à luz da lua e lamparina
Brincadeiras e cantigas de criança
Reunia-se ali toda a vizinhança
Às vezes apenas pra jogar conversa fora
Só se ausentavam com o adiantar da hora
Após comer doce caseiro ou coalhada
Sob o protesto de quase toda meninada
Que chorava pedindo pra ficar
É que na roça é cedo o acordar
Ninguém cochila num cabo de uma enxada
Meu coração buscando conhecer-se
Faz visitas inusitadas ao passado
Ele retorna com o sorriso escancarado
Com bagagem pra fazer uso futuro
Experiente, sofrido e mais maduro
Ancorado na família e na amizade
De mãos dadas caminha com a humildade
Distanciado de mágoas e rancor
Abraçado com a alegria e com o amor
O que ele chama de real felicidade
Ele diz orgulhoso ser um fruto
Do que meu pai plantou um dia no passado
Semeou, adubou, passou arado
Acompanhou o amadurecimento
O meu pai tinha sempre o entendimento
De que o fruto só é bom se a semente
Guardar consonância com o ambiente
Respeitar e ali ser respeitado
Amar sempre se deseja ser amado
Pra que seu norte seja lógico e procedente.
Comentários (2)
Adoro as poesias de Celso. Parabens Minervino pela divulgação
Grande Celso!Muito boa.