Especial UFRN: Cientistas em destaque

Foto: Divulgação

Conheça um pouco da trajetória do cientista Benjamin Bedregal, escolhido pela Plos Biology como um dos mais influentes do mundo

Por Vilma Torres – Agecom

O professor Benjamin Bedregal tenta resumir e diz que sua área de pesquisa é tratar de incertezas, ambiguidades e imprecisões com rigor matemático. Como exemplo, cita o seu relevante trabalho com Lógica fuzzy (nebulosa) que lida com incertezas através do uso de graus de verdade ou pertinência. Essa lógica complicada é aplicada em diversos tipos de sistemas presentes no nosso dia a dia, como o que permite que o sistemas de freios dos carros determinem a pressão correta e evitem uma colisão, a previsão de curvas de carga dos chuveiros elétricos em programas de eficiência energética, o controle de temperatura de ar condicionados e geladeiras, entre outros.

Por essas pesquisas, o professor do Departamento de Informática e Matemática Aplicada da UFRN, foi citado duas vezes e reconhecido como um dos 100 mil cientistas mais influentes do mundo, de acordo com a revista científica internacional PLOS Biology, que levou em consideração a relevância das pesquisas ao longo da carreira e publicações durante o ano de 2019.

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A teoria fuzzy tem sido muito útil no desenvolvimento de diversas tecnologias cotidianas podem ser aplicadas em diferentes formas, explica Benjamin. “Enquanto que na matemática e na lógica tradicional qualquer objeto é parte ou não de um conjunto e qualquer afirmação ou é verdadeira ou falsa, na lógica fuzzy uma afirmação pode ser verdadeira em algum grau e falsa em outro. Tipicamente esses graus são valores no intervalo [0,1] enquanto maior o valor maior o seu grau de verdade, mas outra escala de valores é admissível”.

Em 2013 Benjamin publicou o artigo A New Approach to Interval-Valued Choquet Integrals and the Problem of Ordering in Interval-Valued Fuzzy Set Applications, que ganhou o prêmio de destaque do ano na revista IEEE Transaction on Fuzzy Systems, a mais importante da área. Neste artigo, foi estudada e aplicada uma variante de integral de Choquet (um tipo de função de agregação fuzzy) e usados dois métodos novos de tomada de decisão.

Em 2016, o artigo Improving the Performance of Fuzzy Rule-Based Classification Systems Based on a Nonaveraging Generalization of CC-Integrals Named CF1F2-Integrals introduziu uma generalização do conceito de função de agregação chamada de pré-agregações, e aplicados em algoritmos de classificação. Mas só em 2019 foi desenvolvido um algoritmo de classificação baseado em uma classe de pré-agregações que obteve um desempenho estatisticamente igual ao melhor sistema de classificação baseado em regras fuzzy.

O pesquisador explica que atualmente a noção de pré-agregação tem sido bem aceita na comunidade, tendo diversos congressos com sessões especiais neste assunto assim como um número especial da revista Fuzzy Sets and Systems em andamento. “Desde um ponto de vista teórico, este ano introduzimos uma nova extensão de lógica fuzzy (Conjuntos fuzzy multidimensionais) que acredito venha ser bem sucedida e que será publicada na revista IEEE Transaction on Fuzzy Systems em 2021”.

Entrevista – Benjamín René Callejas Bedregal

É difícil fazer ciência no nordeste brasileiro?

Havia um tempo em que a diferença entre fazer ciência no Nordeste e no sudeste e sul era enorme. Isto ia desde a qualidade dos laboratórios, das bibliotecas, salas de professores e de aulas, de recursos humanos, fundações científicas estaduais até de captação de alunos. Essa brecha começou a diminuir com o lançamento do Portal de Periódicos Capes, no ano 2000, onde se conseguiu que as universidades de menos recursos conseguissem ter acesso às principais revistas científicas e livros eletrônicos ficando praticamente em pé de igualdade às maiores instituições do país.

Depois veio a implantação do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e com ele a melhoria de laboratórios, da infraestrutura dos departamentos e bibliotecas e ampliação substancial do quadro de pesquisadores. No entanto, ainda estamos longe desses centros, principalmente pelo discreto papel das nossas fundações de pesquisa em promover as pesquisas do estado e o fortalecimento de grupos promissores quando comparadas com suas congêneres dos estados sulistas. Outro aspecto que faz diferença é a interação entre indústria e universidade, que beneficiam as pesquisas de inovação tecnológica e traz recursos que auxiliam a financiar pesquisas.

Acredito que hoje em dia, embora em desvantagem, é possível sim se destacar no cenário nacional e internacional estando aqui no Nordeste. Mas para isso é preciso muita dedicação, trabalhar em equipe – certamente eu não teria conseguido este nível que me permitiu entrar neste seleto grupo dos 100 mil pesquisadores mais influentes do mundo sem a cooperação com outros pesquisadores daqui e de fora, assim como do trabalho dos meus orientandos. Acreditar no potencial, ousar e principalmente investir em contatos, e nada melhor para isso do que participar de eventos e conhecer outros pesquisadores que podem contribuir em alavancar as pesquisas.

Acredita que a nova geração de universitários mantém um fascínio pela ciência?

A maioria dos universitários optam pelo trabalho na iniciativa privada ou pública, pois para se fazer ciência é preciso sacrifícios: estudar por mais uns 6 anos (2 de mestrado e 4 de doutorado) e idealmente com dedicação exclusiva (mas as bolsas de estudo são escassas e seu poder aquisitivo a cada ano se desvalorizam), e quando termina percebe que não é fácil nestes últimos anos entrar em uma universidade que valorize a pesquisa.

Embora estes últimos tempos tem nos surpreendido com um aumento significativo de negacionistas e pessoas, que na sua ignorância menosprezam a ciência, acho que no ambiente universitário esta camada da população não é significativa (tanto em número quanto em influência). E mais, acredito que nestes tempos, como uma forma de combater esta descrença e desconhecimento do papel da ciência, nas redes sociais se foram enaltecidas as diversas bem-sucedidas pesquisas nas universidades brasileiras (que maioritariamente é feita nas universidades federais) e isto pode ser benéfico para mais uma vez encantar o jovem universitário com a vida científica e a beleza dos desafios que dia a dia nos impõe.

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