Com 70% de todos seus carros fabricados ainda rodando, alemã reforça atenção ao futuro dos carros não-elétricos e para o futuro da aviação
Em um evento que reuniu autoridades chilenas e europeias a um grupo de empresas lideradas por Siemens e Porsche, a primeira fábrica de gasolina sintética do mundo teve sua construção iniciada na última sexta-feira (10).
O e-combustível, como vem sendo chamado, será produzido a partir de água e gás carbônico e pode ser utilizado normalmente em qualquer carro a gasolina.
Parece simples, e de fato basta relembrar a Química da escola para entendermos a lógica que levou os alemães ao extremo sul do Chile, na região de Magalhães: dado que o “grosso” da gasolina é composto pelos hidrocarbonetos (átomos de carbono e hidrogênio), bastaria obtê-los e juntá-los através de processos industriais para produzir o combustível sem recorrer ao petróleo.
Esse, entretanto, é um processo caro, e que não representaria vantagem alguma não fosse em lugares como a Patagônia chilena, onde ficará a usina de Haru Oni. Lá os ventos da “fronteira” entre América do Sul e Antártida não são apenas abundantes, como também constantes em frequência e direção — perfeitos para a geração de eletricidade.
Essa energia elétrica serve para o simples (porém gastão) processo de eletrólise, que separa a água em moléculas de gases hidrogênio e oxigênio utilizando o produto de turbinas eólicas instaladas pela Siemens no local.
Não bastasse um processo energético não-poluente, a ambição do consórcio apoiado pelo governo chileno é de, na verdade, limpar a atmosfera, uma vez que ⅔ da água vira “hidrogênio verde” enquanto o resto volta ao meio ambiente em forma de oxigênio puro. O lucro aumenta no processo seguinte, que acrescenta o carbono à receita num processo que captura gás carbônico (CO2) do ar, diminuindo o efeito estufa.
Daí em diante a coisa fica mais complexa — tão complexa que foi necessária participação de gigantes energéticas como a ExxonMobil, responsáveis por tecnologias cedidas à iniciativa. O resultado, por outro lado, não poderia ser mais simples: gasolina, transportada de navio à Europa, onde começarão testes que incluem a Porsche Supercup de 2022.
A confiança da fabricante no projeto é muito grande, e um dos argumentos citados é a necessidade de diminuir emissões ao mesmo tempo que a corrida por carros elétricos não se torne um processo caro para os consumidores e marcado por desperdício. “Cerca de 70% de todos os Porsche já construídos ainda estão rodando hoje. Os e-combustíveis permitirão a redução em até 90% de emissões em motores a combustíveis permitirão a redução em até 90% de emissões em motores a combustão”, disse Michael Steiner, membro do Conselho Executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da marca.
As ambições do alemão são tão altas quanto os aviões comerciais, que realizaram quase 40 milhões de voos ao longo de 2019. No caso dos jatos, a eletrificação é quase ficção científica, uma vez que o peso das baterias (já um fardo para os carros) torna inviável qualquer “Tesla dos ares”, ao menos em breve.
“Olhando para indústrias como as de navios e aviões, não tenho ideia de como os combustíveis líquidos podem ser substituídos. A saída é trocar os combustíveis fósseis pelos e-combustíveis, e nosso projeto representa um primeiro passo, uma demonstração dessa oportunidade”, explicou.
Brasil de fora?
Questionado sobre a escolha de uma região mais distante da Europa enquanto o Nordeste brasileiro, por xemplo, ofereceria ventos e infraestrutura bem localizados, Steiner ressaltou que a ideia também envolveu criar infraestrutura onde até então há apenas potencial.
Estima-se que a região de Magalhães possa produzir sete vezes o que hoje é gerado por todo o Chile, que usou a oportunidade para gerar empregos e, principalmente, fincar bases como exportador de energia. “Mais do que ventos, o Chile tem autoridades interessadas nesse tipo de energia e na ideia de exportá-la”, fez questão de frisar o executivo.
FONTE: QUATRO RODAS
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