PREFIRO O BBB! (Minervino Wanderley)

Pois é, brother. Essa pandemia mexeu com muita coisa. Principalmente com os hábitos. Homens e mulheres que gostavam de sair para bares, restaurantes, baladas, tiveram que se acostumar com enfadonhas lives e frias reuniões virtuais. As coisas estão esquisitas, amigo. O Zoom que era um som que a gente fazia para imitar um avião, hoje é um aplicativo que faz parte do nosso cotidiano e é tratado até com certa intimidade: “A gente se fala pelo Zoom às 10h”, combinam os amigos. O trabalho? Tudo diferente. Agora é o tal do home office. E mais um termo inglês invadiu nosso vocabulário e é adotado nas mais diversas profissões. O trabalho em casa é modo obrigatório na luta para frear a contaminação do vírus. Mas há uma parte da população que ainda não captou a real intenção dessa forma de trabalhar.

Como exemplo disso, reproduzo uma conversa que tive – via telefone – com um velho amigo, admirador de um bom whisky e das belas damas da noite. Vejam:

– Alô, é o grande Minerva Plus? – reconheci de imediato a voz do antigo parceiro de farras.

– Diga, meu ídolo! – respondi com indisfarçável prazer.

– Tô arrasado! Você percebeu que não tem mais aquelas “meninas” fazendo o velho trottoir nas calçadas?  Tem mais não, Minerva. Tinha de ruma e agora é tudo deserto. Ontem mesmo, como quem não quer nada, comecei a ouvir aquelas músicas das antigas, me empolguei e quase sequei uma garrafa. Resultado: fiquei animado e resolvi sair atrás de uma companhia para o resto da noite. Que decepção, amigo. Não tinha uma “mariposa” sequer. Nem pra fazer um chá! Não sei onde esse mundo vai parar.

– Tenha calma, meu artilheiro. É a pandemia. Tá todo mundo com medo. Sabe como é esse negócio de isolamento social, tem que obedecer, ficar em casa.

– Foi essa porra dessa pandemia mesmo que acabou o que era doce. Eu tava doido por um “chamego” e, como não tinha nenhuma “amiga” pela rua, resolvi apelar para as antigas. Consultei a agenda e vi que ainda tinha o contato de uma “menina”, liguei e repare na resposta dela: “Meu filho, todas nós aderimos ao home office. Só atendemos em casa.” – já imaginou isso? E agora, o que faço?

– Nesse caso, faça um “trabalho manual” em casa. É home office, rapaz.

Ouvi algo parecido como “Vá tomar ….” e o telefone ficou silencioso. Quase não paro de rir com o desespero desse querido boêmio.

Rapaz, e a televisão, hein? Nunca foi tão utilizada. O streaming virou onda e mudou a forma de ver filmes. Antes, quando íamos indicar um filme era assim: “Não perca 007 Contra o Coronavírus. Daniel Craig dá show! Tá passando no shopping tal.” Isso ficou para trás. Agora tudo é Netflix, Amazon, Globoplay e mais uma penca de opções. Enchi o saco! Já vi tudo e mais uma coisinha. Como não aguento mais notícia de tantas mortes e de ver gráficos lúgubres, passei a acompanhar o tal BBB.

É verdade! Durante muito tempo, quem cometesse a asneira de dizer que assistia ao BBB era rotulado de “sem-futuro”, “alienado”, “aculturado”, entre outros adjetivos. O dito programa era visto às escondidas, como se telespectador estivesse sendo cúmplice de um delito grave. Porém, uma coisa era certa: o danado era comentado em tudo que era canto. Os homens falavam das belas mulheres. “Às vezes eu dou uma olhada, mas só por conta daquelas belezas”, era desculpa mais usada pelos intelectuais. Era desse jeito.

Vou confessar duas coisas: eu pertenci a esse time de críticos e eu também dava essas “brechadas” nas mulheres. Mas, metido a besta, só assistia ao Jornal Nacional, Globo News, GNT, e esses programas de quem tem cultura.   Porém, como a vida é uma roda gigante – ora em cima ora embaixo – eu passei a  fazer parte do time dos “sem-futuro”, “alienado”, etc. Para ser mais exato, desde 2020, ano da pandemia.

Nesse período, depois de assistir a centenas de filmes e séries nas diversas plataformas de streaming, fiquei viciado em novelas, vi o campeonato nacional de gamão do Uzbequistão, revi todos os jogos do Flamengo de 2019, o escambau! Uma bela noite, por acaso, comecei a acompanhar o Big Brother Brasil. E não é que   prendeu a atenção? Depois de três “paredões” mandei os críticos pro inferno e comecei a torcer pelo brother com quem simpatizei. Foi Babu, o cara que fez Tim Maia, o filme. Ele perdeu, mas eu ganhei valiosos momentos do mais completo desligamento do atual mundo externo: o da pandemia e das mortes diárias.

Por ofício, convivo com notícias de toda espécie. Da menina que doou um rim para salvar um morador de rua a um homem que estuprou uma criança. Por opção, apenas vejo os títulos das desgraças e divulgo as boas. Afinal, elas ainda existem! Dá um trabalho enorme, mas encontramos coisas boas mundo afora.

Uma pergunta de brother pra brother: o que você prefere? O percentual de mortos pela Covid ou do paredão do BBB? Prefere assistir a um vídeo de uma pessoa sendo morta por assaltantes ou a um outro com pessoas disputando a liderança do BBB? Prefere as discussões sobre confinamentos via decreto ou aquele confinamento do BBB? Prefere ver um sem-número de pessoas sendo enterradas em valas ou uma ser escolhida para sair do BBB? Fala sério!

Eu não aguento mais!  Já não sei de cabeça os Amigos – com “A” – que perdi nessa pandemia. Sem falar naqueles que apenas conhecia. Foi um bocado. E a quantidade continua a crescer. São raros os dias nos quais não tenho notícia de uma morte dentro dos enquadramentos acima. E o pior sabe o que é? A dor já não é a mesma. Estou me habituando a perder pessoas. Me acostumando com a morte. Você se lembra quando se pronunciava o nome MORTE, todos se benziam e diziam “Deus me livre!”? Hoje, está mais comum do que gol da Alemanha no Brasil.

Não sei mais quando vamos nos juntar pra ouvir um rock com Pink Floyd, Rolling Stones, Deep Purple, Uriah Heep, matar a saudade de Beatles e Queen, além de  desfrutar um blues/jazz nas vozes divinas de Billie Holiday, Nina Simone, Dinah Washington, Amy Winehouse, cantar e tomar um porre de felicidade. Ando saudoso da turma.

Bem, vou ficando por aqui porque já vai começar o paredão do BBB21. Não perco por nada! Faça o mesmo, tá certo? Um fraterno abraço e, se um dia Deus me fizer “anjo”, vou imunizar a turma toda!

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Comentários (10)

  • Gilberto Bilro Responder

    Valeu, Amigo!
    Belo texto. Não vejo o BBB, somente esportes e noticiários de algumas TVs, mas confesso: não suporto mais essas estatísticas da Pandemia.
    Abraço (Whatsapp)

    8 de abril de 2021 at 08:20
  • Lilian Alex Responder

    Adorei ri demais!!!! (Whtasapp)

    8 de abril de 2021 at 08:20
  • Socorro Mariz Responder

    Parabéns pela crônica. (whatsapp)

    8 de abril de 2021 at 08:19
  • Tania Araujo Responder

    Ta otimo!!! (Whatsapp)

    8 de abril de 2021 at 08:17
  • Suerda Dantas Responder

    Sim, esqueci de parabenizar pelo artigo.
    Muito bom ?????? (Whatsapp)

    8 de abril de 2021 at 08:16
  • Josimey Responder

    Bem escrito, fica fácil entender seu ponto de vista. A realidade é muito dura, tem que ter algum escape mesmo. (Whatsapp)

    8 de abril de 2021 at 08:15
    • ROBERTO ALADIM Responder

      Brilhante texto Minerva, o puro dia dia . Abração

      8 de abril de 2021 at 10:44
  • Aristeu Responder

    Ótimo e atual! (Whatsapp)

    8 de abril de 2021 at 08:14
  • carlos alberto Responder

    Fora o BBB, aqui e acolá dá um fôlego danado ler as gostosuras que saem da cabeça do jornalista, órgão que, para nosso prazer, não entrou em desuso forçado, nestes momentos de confinamento.

    7 de abril de 2021 at 18:10
  • Marco Polo Responder

    Minervino, li é adorei, conheço gente “boa que está assistindo o BBB. Abraço pra você!

    7 de abril de 2021 at 17:45

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