Viver por Viver (Minervino Wanderley)

Quem é ligado em cinema, rapidamente associa o título à obra-prima de Claude Lelouch – “Vivre pour Vivre”, de 1967, com Yves Montand, Candice Bergen, Annie Girardot, e trilha sonora de Fancis Lai. Só falar sobre esse drama já daria “pano para as mangas” de tão interessante que o filme é.

Mas o papo é outro, meus caros. Refiro-me a um determinado tipo de gente que passa seu tempo cá entre nós sem fazer porra nenhuma! Nem de bom, nem de ruim. Zero! Morre e ninguém se lembra de ir ao velório. No seu enterro só tem a família – isso se ele tiver deixado alguma grana.

Aliás, só quem sempre soube da sua existência foi o Imposto de Renda. Bem feito. Com esse estilo, deveria pagar o Imposto da Vida. E bem caro!

Sabe esse povo que nunca errou, nunca tomou um porre e disse besteiras? Que nunca mentiu e nunca disse “Eu te amo” à pessoa errada? Que nunca fez um discurso numa roda de cerveja com amigos e nunca cantou só porque se acha desafinado?

Que nunca escreveu o poema que pensava com medo das críticas e nunca vestiu a roupa que tinha vontade porque era ‘fora de moda’? Que nunca se fantasiou sem ser carnaval temendo o ridículo e nunca dançou uma quadrilha de São João porque tinha vergonha de ser um matuto?

Essas pessoas não se emocionam no cinema por mais tocante que seja a cena. Também não dão gargalhadas de doer a barriga quando o acontecimento pede isso. Suas roupas? O sapato combina com o cinto e a meia com a camisa. Acho que até a cueca deve combinar com o lenço.

Vivem sós. Ainda que se casem – tem que casar, pois jamais “morarão juntos”- continuarão sozinhos, já que têm vergonha de falar como o coração e medem tudo o que dizem. Vivem numa distante proximidade.

Se for homem, é formal e chato tal qual o segundo marido de “Dona Flor”, que dormia de pijamas de mangas compridas e nunca roubou um beijo da mulher. Pedia permissão antes. Insosso!

Se for mulher, é cheia de frescuras e não-me-toques. Se o namorado se atrever a puxá-la para dar um beijo e um arrocho, o namoro acaba ali. Afinal, ela não é ”dessas mulheres fáceis”. Morre donzela!

Eles seguem piamente os Dez Mandamentos. Coitados. Mal sabem eles que Deus perdoa alguns pecados. Afinal, Ele nos deu inteligência e criatividade, é ou não é? Pense numa gente chata! E ainda por cima são “politicamente corretos”.  Quero é distância deles.

Sabem o que é bom mesmo?

Bom é ‘gazear’ aula e ir bater pelada com os amigos; é faltar um dia ao trabalho porque não está a fim de ver a cara do chefe; é ter coragem de terminar um namoro com a menina mais linda do pedaço, porque descobriu que gostava mesmo da feia; é ter as portas sempre abertas aos amigos; é entrar sem bater nas casas dos amigos.

Bom é ter respeito e estar ao lado dos pais até o fim; é ser honesto, prestativo e sincero; é fazer o bem sem esperar o troco; é ficar feliz com sucesso do outro; é não ter vergonha de ser pobre; é ser rico e conviver bem com isso.

Por falar nisso, ter ou não ter dinheiro é um assunto que não merece discussão. Temos que lembrar que todos – sem exceção – nascemos sem um tostão no bolso. É claro, já que nascemos sem bolso também. Da maternidade pra frente é futuro e esse a Deus pertence.

Voltando aos chatos, o que me deixa encucado é saber que existem verdadeiros vegetais que tomaram formas humanas que estão a perambular por aí. Sem dar o menor valor à vida, esse inestimável presente que Deus nos presenteou. Quanta coisa linda! E é tudo de graça.

Meus amigos, um amanhecer traz consigo a beleza do renascimento. Basta prestar atenção. O pôr do sol é o fim de um dia e um recado para nos lembrar de que tudo tem seus ciclos. Logo em seguida surge a lua, que tem o poder de ser bela e não ser de ninguém.

Por falar nela, dizem por aí que a lua é dos namorados. Na verdade, a lua é dos apaixonados. Caso contrário, ela se encontra quase livre, pois quase não existem mais namoros. A turma agora só “fica”.

Exceto, é claro, aquele pessoal chato, que tem medo de ser mal falado pela vizinhança. Coisa de quem ficou para trás no tempo.

Eu sou do tipo “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. A vida é cheia de aventuras e eu sempre gostei desse modo de viver. Sempre vivi intensamente, nunca economizei gestos ou palavras de carinho ou de incentivo.

Ultrapassei os limites algumas vezes, reconheço, mas nunca com intenção de fazer mal a ninguém. Aproveito para pedir um sincero perdão a quem magoei. Ganhei e perdi coisas valiosas nessa trajetória. Tenho hoje plena consciência disso. Não sei se foi o tempo que me deu umas lições ou se foi Nossa Senhora que colocou um pouco de juízo na minha alvoroçada cabeça. Só sei que vivo agora no “modo seguro”. Tranquilo e calmo.

O importante é que, como disse Roberto Carlos: “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. O Rei é foda!!!

Continuo inquieto, com ânsia de viajar mais por esse mundão de meu Deus, de aprender mais, e mais um bocado de coisas. Sempre achei que há uma abissal diferença entre estar vivo e viver. Por isso, meu trajeto é que nem os versos cantados por Vinicius de Moraes:

“Quem já passou por essa vida e não viveu,

Pode ser mais, mas sabe menos do que eu.

Porque a vida só se dá pra quem se deu,

Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.

Quem nunca curtiu uma paixão

Nunca vai ter nada, não.”

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Comentário (1)

  • Junot Araújo dos Santos Responder

    Amigo Minerva, você tem se tornado meu escritor preferido.
    Preferido, porque coloca a vida em nosso cotidiano de maneira bela e suave com desvios de menino levado.
    Escreva um livro, please!

    7 de agosto de 2022 at 13:47

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