PENSE! Autismo E Sexualidade: Como Falar Sobre O Assunto?

FOTO: ILUSTRAÇÃO

Tabu na maioria das famílias, a sexualidade é um tema ainda mais delicado quando se trata de crianças e adolescentes autistas. Qual o melhor momento para falar sobre o assunto? Quando buscar ajuda profissional?

O psicólogo Felipe Wanderley, analista do comportamento no Núcleo Desenvolve, explica que não há um padrão a ser seguido pelos cuidadores e profissionais, mas ressalta a importância de se proporcionar um ambiente seguro, autonomia e saúde mental.

“Toda forma de amor vale a pena, e o autista tem direito ao afeto”, afirma Felipe. “É muito importante que as famílias consigam trabalhar a tão difícil habilidade social e que comecem cedo a tratar da educação sexual”, completa.

O analista destaca, ainda, que a experiência da sexualidade vai além do comportamento e ato sexual, passando também pela higiene íntima, percepção do corpo etc. “Como os autistas têm dificuldade maior de seguir modelos, surge o impasse de como eles vão aprender estes comportamentos”.

A ciência, a partir de uma abordagem comportamental, afirma que o autista tem maior desinteresse à estimulação social, maior dificuldade na comunicação, apresenta interesses restritos e comportamentos esteriotipados. Isto, porém, não significa que não tem sensibilidade e afetividade.

“Antigamente, afirmava-se que as pessoas com o espectro não se interessavam por questões da sexualidade, mas hoje há estudos que apontam que 75% demonstram interesse”, diz Felipe.

Deste percentual, de acordo com as pesquisas, há 30% das famílias que se preocupam com algum tipo de comportamento disfuncional. Por isso, é tão importante conversar, mediar e oferecer às pessoas com autismo um repertório que as permita conviver com estas e outras questões.

“A sensibilidade é inata, e dela nasce o comportamento sexual, por isso não é correto inibir ou proibir, porque piora a situação”, alerta o analista. “Não existe uma fórmula, mas caminhos, por isso o auxílio profissional é importante em muitos casos”.

Um exemplo de tabu para as famílias é a masturbação. “Muitas vezes, o indivíduo precisa ser ensinado sobre a própria mecânica do ato, inibindo, assim, as disfunções”, acredita Felipe. “É preciso analisar a frequência, duração e intensidade destes comportamentos, inclusive evitando que se machuque ou que tenha implicações na higiene íntima”.

Felipe alerta, ainda, que reprimir comportamentos pode ser consequência de uma questão dos pais, que pode também precisar ser trabalhada até com auxílio profissional. “O cuidador precisa se cuidar”, afirma.

Ele também reforça que a educação sexual, para qualquer criança, é uma forma de combater abusos. “Precisa ensinar o que é assédio, quem pode e quem não pode tocar o corpo da criança, ensinar sobre limites e privacidade”, ressalta. “O estupro de pessoas vulneráveis e incapazes é praticado, em sua maioria, por pessoas próximas”.

E qual a idade certa para começar a trabalhar a questão da sexualidade? Para Felipe, quanto antes, melhor. “Ainda na infância, é possível explicar o que é um amigo, o que pode e não pode, o que é o corpo, qual o limite ao interagir com o outro”, explica.

Por fim, Felipe destaca dois aspectos que considera muito importantes. “Ocupar o tempo da criança e do adolescente autista, enriquecer a rotina com repertórios de brincar e de interação social com pares e fortalecer relações interpessoais evitam que o ócio se torne espaço para comportamentos repetitivos e inapropriados”.

O outro é ensinar o autogerenciamento. “Todo indivíduo precisa ser estimulado a tatear e entender suas emoções e sensações e também aprender sobre limites”.

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