Como era Natal 10 anos antes da Segunda Guerra?

REPRODUÇÃO

“…chego mesmo a distinguir
duas épocas para a cidade:
antes e depois da guerra.”

Paulo Viveiros (História da Aviação no Rio Grande do Norte).

Os bairros eram apenas três naqueles tempos: Ribeira, Cidade Alta e Alecrim. Não se podia chamar de bairro as chácaras que ficavam onde hoje é Tirol e Petrópolis, embora a área já estivesse, urbanisticamente, traçada, com a denominação de Cidade Nova.

Além da Ribeira, as Rocas, pequeno reduto de pescadores, começava a dar sinais de vida. Quando chovia muito se isolava da cidade, quase ilha.

Nesses bairros ruas cresciam lentamente em desordem, e vacas pastavam a grama verdinha do leito. Calçamento só na Tavares de Lyra, Dr. Barata, e poucas outras da Cidade Alta, assim mesmo de pedras irregulares sobre as quais pinotavam os fords de bigode. Mas, em 1929, o prefeito Omar O’Grady confiava ao engenheiro Giacomo Palumbo a elaboração de um plano de urbanização da cidade.

Afora as ruas mencionadas, destacavam-se a Avenida Rio Branco, Praça Augusto Severo, Praça André de AlbuquerqueRua Santo Antônio. E outras que ainda eram chamadas pelos nomes antigos: Rua do Fogo, Rua da Palha.

Os padrões arquitetônicos estavam sob influência art nouveau, a última moda. Raros prédios com mais de dois andares. Alguns sobrados, em destaque o denominado “Véu da Noiva”, à Rua da Conceição (atual Museu Café Filho) e outras residências e casas de comércio, estas, em maior número, na Ribeira.

A Cidade Alta, núcleo urbano primeiro, era o bairro residencial por excelência. Ali ficavam também diversos prédios do Governo e casas de diversões. A Praça André de Albuquerque, no centro, quase nada mudou: a um lado, o Palácio Potengi (atual Pinacoteca do Estado), com pés de ficus à sua frente; do outro lado, a velha Igreja Matriz de uma torre só, e o resto, fileiras de casas pegadas umas às outras, dando portas e janelas para as calçadas.

Junto à praça, por trás da Matriz, a Praça da Alegria (Praça Pe. João Maria, local de um dos mais “belos” edifícios da cidade, a sede da Irmandade dos Passos. Este prédio, que hoje se apaga à sombra do edifício “21 de Março”, tem frontaria trabalhada em argamassa, porém sem maior interesse artístico.

A dois passos dali, casas residenciais da Av. Rio Branco. Casas, em sua maioria, com fachadas em estilo remanescente da era colonial, muito simples; algumas, porém, dispunham de jardins laterais protegidos por gradis, e tinham, em suas fachadas, arabescos, altos-relevos com motivos florais, barras bem altas e, às vezes, letras: VILA CREMILDE, VILA ODILA.

Mas, era na Ribeira que havia maior número de construções de arrojo, isto é, dois, três andares, principalmente na Tavares de Lyra, Dr. Barata, Rua do Comércio e Praça Augusto Severo. Nesta última, o Teatro “Carlos Gomes” (atual “Alberto Maranhão”), que ainda hoje se conserva tal como era, com ligeiras modificações. O “Carlos Gomes” passava filmes, além de peças teatrais. Seus cartazes davam para ser vistos do Grupo Escolar “Augusto Severo”, ao lado, uma bela edificação, hoje quase em ruínas.

Outros edifícios, orgulhos da terra, na época: a sede da Assembleia Legislativa (depois, sucessivamente, Tribunal de Justiça e OAB), Atheneu Norte-rio-grandense, com suas numerosas portas e janelas em estilo ogival, e o prédio da Saúde Pública, todos na Subida da Ladeira (atual Av. Câmara Cascudo). Sobressaía-se, no entanto, o palácio da Prefeitura Municipal, inaugurado em 7 de setembro de 1922, pelo Governador Antônio de Souza, como parte das comemorações do centenário da Independência.

Dentre as igrejas, “Santo Antônio”, exemplar mais interessante da arquitetura barroca, em todo o Estado, ao lado da qual funcionava colégio de igual nome, e “Rosário”, antiga igreja dos escravos, além da matriz.

O Alecrim, primitivamente, era menos que subúrbio, tanto assim que foi lugar escolhido para situar o cemitério da cidade. Mas, na era de 30, já se podia chamar bairro. Começava pouco depois do Baldo e ia subindo, com mais árvores e terrenos baldios do que casas, até bem depois do cemitério. Já tinha a feira. Suas casas eram humildes, moradas de operários, nos quintais cercas enfeitadas de melão de são caetano alegravam a vista.

Depois do Alecrim, as Quintas eram as quintas mesmo. Sítios de mangueiras e cajueiros, itinerário de lobisomens e outras assombrações.

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