Em nome do pai (Minervino Wanderley)

EMÍLIO SALEM DIEB

Para Emílio Salem Dieb, meu pai.

 

Ter um pai é ter um amigo do peito, daqueles que você pode contar em qualquer circunstância. Ter um pai é ter um exemplo a seguir. Ter um pai é ter a certeza da segurança que seu abraço proporciona. Ter um pai é ter histórias para contar sobre seus predicados.  Ter um pai é ter um conselheiro, daqueles que pastoram sua caminhada e corrigem eventuais erros de trajeto. Ter um pai é ter um confidente fiel, daqueles a quem você conta tudo.   

 Ter um pai é o máximo!  

Deve ser, já que isso tudo eu me acostumei a ouvir dos amigos sobre os seus pais. Li livros e assisti a filmes que confirmam tudo isso. Creio que seja tudo assim mesmo. Não posso dizer com convicção, porque perdi o meu quando tinha seis anos. Restaram vagas lembranças, tão desgastadas como as fotos em preto branco guardadas em um álbum e amareladas pelo tempo. Meros papéis.  

 Cresci sem saber o que era chamar pelo pai quando me deparava com uma ameaça. Nunca tive histórias de meu pai para contar nas rodas de amigos. Lembro-me do medo que me rondava quando o Dia dos Pais se aproximava. Com razão. Ora, a quem eu iria dar um beijo e um presente? Quando ia para o Externato, no curso primário, esse dia era angustiante. Imaginem a cena: as crianças com um presente nas mãos de um lado e os pais do outro, cada um aguardando a vez de ser chamado para a entrega. Eu olhava para a frente e papai não estava lá. Meu irmão ou minha irmã mais velha fazia o papel do pai. A vontade era de sair correndo.  

 Até hoje sinto uma espécie de saudade do que não existiu. E que saudade! 

Como sinto saudade… 

…das longas conversas que nunca tivemos, das comemorações que nunca fizemos, e de dores que nunca juntos choramos; de nunca ter tomado umas cervejas com ele. Só nós dois, como fazem os amigos queridos. 

Como sinto saudade…  

…dele nunca estar sentado numa arquibancada qualquer, me vendo jogar futebol e chamando o juiz de ladrão, do jeito que só um pai sabe fazer; dos discos que nunca lhe dei e dos tangos e boleros que nunca ouvimos juntos; dos ternos de linho branco que nunca mandamos fazer e que tanto ele gostava de usar. 

Como sinto saudade… 

…daquele passeio que nunca demos quando tive meu primeiro carro, e da sua expressão que dizia: “Esse menino é fogo!”; de nunca ter ido ao aeroporto buscá-lo de volta das suas viagens, ganhar um abraço apertado e aquela lembrança que eu tanto gostava de receber. 

Como sinto saudade… 

… de nunca ter visto seu sorriso de alegria quando passei naquele concurso do Banco do Brasil ou no vestibular; dos conselhos que nunca me foram por ele dados; de nunca ter chorado no seu ombro – de alegria ou tristeza.  

 Mas Deus, como sabemos, dá o frio conforme o cobertor. E assim foi. Minha mãe, mesmo com seis filhos para criar – eu era o caçula – encontrou tempo para mim. Se fazia presente no meu cotidiano amenizando a dor da ausência que ela sabia que eu, no meu silêncio, sentia. E que mãe e pai ela foi! Cuidou de mim até seu derradeiro dia. Conversávamos muito, mas parece que havia um tácito acordo, e nós nunca falamos de papai. Um beijo, mamãe.  

 Hoje, sem saber o porquê, com o coração apertado, só posso dizer uma coisa: você faz falta, papai.

 

Nota: é uma repetição do que disse há quatro anos. Nada mudou. Os sentimentos são os mesmos. Mais um dia difícil e demorado. Não parece ter 24 horas, mas sim uma vida inteira. Perdão pela reiteração, mas dizer que ama seu pai deve ser dito sempre.

 

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Comentário (1)

  • Rafael Raulino Responder

    Lindo texto, Badé!
    Realmente traduz o sentimento!
    Um abraço

    13 de agosto de 2024 at 18:09

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