PENSE! Adoniran Barbosa: Em Aniversário De 110 Anos, É Lançado Álbum Com 11 Obras Inéditas; Ouça

Foto: SOLANO DE FREITAS/Estadão Conteúdo

“Outros bares da Ipiranga / Eram a Consolação / Só mais um e era a conta / Pra minha desilusão.” Embora escritos há mais de 40 anos, esses versos do célebre sambista paulistano Adoniran Barbosa vieram à tona somente agora, em 2020.

Na última quinta-feira, 06, em que completaria 11 décadas de vida, foram lançadas 11 obras inéditas do compositor de “Trem das Onze”, “Tiro ao Álvaro” e “Saudosa Maloca”. As canções foram produzidas a partir de partituras e letras que estavam guardadas há anos. Ouça:

A homenagem, feita em plena pandemia de Covid-19, foi gravada nas vozes de artistas consagrados e novos talentos da música brasileira, como Elza Soares, Zeca Baleiro, Rubel e Francisco, el Hombre.

Produtor musical responsável pelo projeto, Lucas Mayer contou à CNN que teve acesso ao material intocado em 2016. A descoberta foi feita por intermediação de funcionários da tradicional rádio paulistana Eldorado – lugar tão frequentado por Adoniran nos anos 70 que o sofá em que cochilava após o almoço ganhou seu nome.

Mayer afirma que as músicas nunca haviam sido gravadas por conta da necessidade de trabalhar a interpretação daqueles documentos históricos. “Eram partituras só com melodia, sem harmonia e a letra vinha separada da partitura. Não ficava claro onde a letra se encaixava com a música”, explicou, ao comparar o processo com uma tradução.

“O Adoniran transcende seu tempo”

Ainda em 2016, parte do material já foi utilizado e lançado pela gravadora da própria Eldorado, mas 11 músicas permaneceram intocadas. Com a coincidência do aniversário de 110 anos, a cerveja Eisenbahn topou em financiar a iniciativa. “Achava um absurdo que isso nunca foi gravado”, contou Mayer.

Uma das propostas do projeto “ONZE” foi levar o trabalho de Adoniran Barbosa para um novo público. Por isso, optaram por uma mescla de artistas consagrados e outros em ascensão para interpretar as obras.

Ao mesmo tempo em que os artistas deixaram suas marcas na forma de interpretar a música, o produtor conta que eles também foram “adoniranizados”, incorporando alguns aspectos do sambista. “Não tinha como sair das letras e melodias do Adoniran, os artistas acabaram incorporando”, disse.

Cada música do álbum é acompanhada de um depoimento sobre o processo de produção. A antológica Elza Soares, no auge de seus 90 anos, deu ares futurísticos aos versos de Adoniran ao cantar a música “Vaso Quebrado”. “É quase uma viagem no tempo. O Adoniran transcende seu tempo e cabe muito bem nesse estilo moderno”, relatou Elza.

Já no final de sua carreira, ao ver a ascensão da Jovem Guarda de Roberto Carlos enquanto seu próprio sucesso diminuía, Adoniran cantava: “E eu que já fui uma brasa, se assoprarem posso acender de novo”. 38 anos após sua morte, volta a queimar como brasa o sambista que narrou, pela perspectiva das malocas, o cotidiano da São Paulo em expansão industrial.

Gravações em casa

Para além da curadoria artística, a crise causada pelo novo coronavírus impôs condições específicas para a realização do projeto. Mayer explica que teve de optar por instrumentistas que já tinham estúdios próprios em suas casas para gravar as bases das músicas.

Além disso, o produtor explica que realizou videochamadas pelo aplicativo Zoom para poder instruir os artistas durante o processo. Os cantores que não tinham infraestrutura para gravar suas vozes precisaram de um esquema improvisado. Ele conta que chegou a enviar para alguns um “kit de gravação” com seus próprios equipamentos higienizados para que pudessem realizar as gravações.

“Precisei ligar para a pessoa e ajudar a criar um ambiente de estúdio na própria casa. O Rubel, por exemplo, estava na praia e tivemos que nos livrar do som do mar”, relator sobre o cantor carioca que deu voz à música “Bolso de Fora”.

Em uma homenagem involuntária às “coisas simples” que Adoniran dizia cantar, o álbum foi construído entre microfones improvisados dentro de um guarda-roupas e “cabaninhas” de colchões e cobertores.

 

Fonte: Leonardo Lopes* Da CNN, em São Paulo

*Com supervisão de Marina Motomura

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Comentário (1)

  • Ivanilsa Freire da Rocha Responder

    ??????????????????????????????

    10 de agosto de 2020 at 14:50

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