Plantar maconha no Brasil impõe dilema a conservadores

Foto: Maj. Will Cox/Released)

Mercado global crescente Será US$ 84 bi em 2028.  Soja exportada: US$ 35 bi

PAULO SILVA PINTO – 04.maio.2021 (terça-feira) – 5h50

O agronegócio brasileiro está entre os mais produtivos do mundo. Só o complexo soja rendeu US$ 35 bilhões em exportações em 2020.

É natural que os produtores rurais busquem produtos com maior rentabilidade. A soja e outros grãos valem muito mais transformados em carne de aves, porcos ou bovinos, por exemplo.

A busca da rentabilidade explica a preferência de agricultores gaúchos com pequenas propriedades pelo plantio de tabaco. Mesmo em áreas limitadas, uma família tem renda suficiente para manter nível de vida confortável, semelhante à classe média de centros urbanos.

O tabaco enfrenta críticas pelo risco de danos à saúde aos fumantes. Mas se o produto não fosse plantado no Rio Grande do Sul seria importado. Hoje, ao contrário, a balança comercial é favorável: o Brasil exporta cigarros.

Há controvérsia atualmente no Congresso em torno da permissão para que se plante a Cannabis sativa, ou simplesmente maconha. No caso desse produto, o consumo recreativo, que é ilegal no Brasil, envolve riscos à saúde. Mas também há benefícios com o uso do extrato na forma de medicamentos e de cosméticos, por exemplo.

O potencial de exportação é muito grande. Estima-se que só no Estado norte-americano de Nova York o mercado legal da maconha será de US$ 1,2 bilhão em 2023. Estudo da consultoria Grand View Research, de São Francisco, prevê que o mercado global da Cannabis e seus derivados alcance US$ 84 bilhões em 2028. Isso é mais do que o dobro do que renderam as exportações brasileiras de soja em 2020.

PROJETO NA CÂMARA

O projeto 399 de 2015 em discussão na Câmara libera o plantio de Cannabis exclusivamente para uso medicinal e industrial. Pelo texto, não poderia ser exportada para consumo recreativo. O relator, Luciano Ducci (PSB-PR), pretende apresentar na próxima 3ª feira (11.mai.2021) nova versão, com emendas propostas pelos colegas.

Há chances de que seja votado no mesmo dia e siga diretamente ao Senado. Ducci disse que a tendência é ser aprovado. Mas não ignora a resistência de muitos de seus colegas.

A dificuldade é que os congressistas que defendem o agronegócio são em geral conservadores nos costumes, em linha com seus eleitores. Tendem a se opor à liberação de um produto no qual veem atributo moral negativo.

O deputado Sergio Souza (MDB-PR), presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), afirmou ao Poder360 que é contra a proposta. Ressalvou que não há posição da FPA e que cada um é livre para votar como quiser.

Há posições dissonantes entre os conservadores. O deputado Fausto Pinato (PP-SP), que é evangélico, disse em 2019 ao Poder360 ser favorável ao plantio na Cannabis no Brasil. À época ele presidia a Comissão de Agricultura.

Congressistas pensam basicamente em uma coisa: sobrevivência política. A permissão para o plantio de Cannabis só será aprovada quando os congressistas conservadores tiverem absoluta segurança de que, para seus eleitores, as vantagens econômicas se sobrepõem às restrições pessoais.

Considerando a pujança e o pragmatismo do agronegócio a dúvida não é se essa permissão virá. É simplesmente quando será esse dia.

Fonte: Poder360 

Autor

Paulo Silva Pinto

Paulo Silva Pinto

Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), com mestrado em história econômica pela LSE (London School of Economics). No Poder360 desde fevereiro de 2019. Foi repórter da Folha de S.Paulo por 7 anos. No Correio Braziliense, em 13 anos, atuou como repórter e editor de política e economia.

 

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