PENSE! ‘Nomes De Ruas’: Nesse Artigo, Câmara Cascudo Deixa Sua Opinião; Confira

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Por Luís da Câmara Cascudo

“Uma lei fundamental na Toponímia ensina que: – rua velha, nome velho, rua nova, nome novo. É muito fácil, claro e lógico.
Mas o bicho homem entende às avessas ou não entende. Dá-lhe a moléstia das substituições, das mudanças, das transformações. Ruas em Natal tiveram seis a sete nomes. No Rio de Janeiro, nem é bom falar.

Acusam os nomes antigos de feios. Não é direito que uma Cidade bonita, espanada, caprichosa, visitada, tenha ruas chamadas do Sebo, do Vai quem quer, do Fogo, do Cá te espero, do Camboim, da Palha, dos Tocos, Rua Grande, etc.

Mas outros eram evocativos e nostálgicos. Rua da Aurora, Rua da Trindade, Praça da Alegria, Rua da Estrela…
Por que desapareceram? Intimação do Progresso!…
Aí está o engano. O Progresso nunca exigiu esses sacrifícios contra a Toponímia urbana.
Londres é cidade civilizada, progressista, moderna, capaz de ensinar e dar exemplo? A capital da Inglaterra, a sede da Grã Bretanha não terá todos esses títulos?
Londres guarda, imutavelmente, os nomes de suas velhas ruas seculares. Rua nova merece nome novo, mas quando a rua é velha, o inglês deixa o nome de outrora, ensinando aos presentes como se respeita uma história, uma predileção ou um fato social do Passado.

Culta, sábia, populosa, senhorial, cheia de orgulhos e de lembranças heroicas, Londres nunca encontrou dificuldade em harmonizar o Progresso com as tradições de sua imensa história.
Rua do Padeiro, Estrada da Balança, Rua da Bandeira, Rua do Banho, Rua da Cerveja, Rua do Sino, Rua do Pássaro, Rua do Cavalo Preto, Rua do Pão, Rua da Noiva, Caminho do Cozinheiro, Rua da Feira, Rua da Águia, Rua da Sexta-Feira, Rua da Uva, Rua da Baía, Rua da Meia Lua, Rua do Coelho, Rua do Leão, Rua do Lagarto, Rua da Moça, Rua do Leite, Estrada do Padre-Nosso, Rua do Galinheiro, Rua do Raio, Rua do Arenque Salgado, Rua do Corvo, Rua da Areia, duzentas outras, compravam.
Essas denominações continuam. E Londres continua, vencendo…

Os nomes não têm influência? Não sei. Lembro que Milton, o poeta eterno do Paraíso Perdido, nasceu na Rua do Pão, Bread Street. E Thomas Morus, santo e sábio, nasceu na Rua do Leite, Milk Street.
Nome feio não faz gente parecida com ele. Pode fazer o contrário.
Mudaria eu o nome de vinte mil cidades, se esse cataclismo determinasse o nascimento de outro John Milton ou de um segundo Thomas Morus…”

Fonte:
A República, Natal, 23/12/1943,
Acervo LUDOVICUS – INSTITUTO CÂMARA CASCUDO