Redinha Velha: O Redinha Clube e a Festa do Caju

REDINHA CLUBE

FOTO: Redinha Clube, anos 70. Acervo Fábio Lima.

Em 1924, os limites da Redinha iam até a costa sul do Estado e ao cabo de São Roque.

Por essa época foi edificado, todo de madeira, na proximidade do mar, o Redinha Clube, que viria a se tornar a sede única de diversão para veranistas durante décadas.

Sua construção foi a única tolerada pelos moradores e veranistas naquela linha de frente para o mar.

O desejo do vislumbre da paisagem à frente, dos paquetes deslizando pelo mar, sem construções ou concreto para atrapalhar a vista fazia-se, naquela época, o papel de plano diretor da Redinha, elaborado pelos próprios entusiastas da praia.

Gil Soares opinou que, “talvez por se tratar de terreno de marinha, de vez em quando aparecia quem pretendesse construir casas próximas à beira da praia.

Mas, a reação dos veranistas era imediata e unânime. O próprio mercado teve de ficar do lado do rio, junto ao novo ponto de desembarque de passageiros de botes e lanchas”.

Se Gil Soares afirma que a construção da primeira sede do Redinha Clube foi em 1924, uma placa alusiva à sua construção está fixada no interior do clube, com a cronologia da edificação do lugar.

Segundo ela, o Redinha Clube foi erguido no ano de 1922, em madeira. E apenas em 1935 ganhou a atual estrutura de pedra de praia, tal qual a Igreja de pedras pretas, distante poucos metros.

O prédio abrigou as maiores comemorações da Redinha desde o seu início, depois promovidas pela Associação de Veranistas, sendo algumas folclóricas, como a Gato no Pote, quando se amarrava uma nota de dinheiro no rabo do gato para ver quem pegava.

E ainda corrida de jegue, corrida de saco, pau de sebo, parque de diversão com roda gigante, gincanas, torneio de pingue pongue. E, claro, a tradicional Festa do Caju, realizada entre a década de 1960 até 1978.

Mas como se dividisse de mesma alma, o Redinha Clube acompanhou a decadência da praia e quase virou ruína quando a Redinha passou a estampar apenas manchetes negativas nos jornais.

Durante toda a década de 80 o prédio serviu apenas de banheiro público e depósito de lixo a céu aberto. Na década de 90 até o teto caiu e a areia praticamente encobriu o que restou.

Para ganhar novo fôlego após mais de 15 anos inutilizado, uma comissão de veranistas formada por João Alfredo, Sérgio Góis, Igor Ribeiro e Cândido Medeiros agendou audiência, em 1995, com o então prefeito Aldo Tinôco para conseguir o recurso da restauração da cobertura do Redinha Clube, já que as reformas do serviço de bar a própria Associação tinha iniciado.

Carnaval no Redinha Clube, em 2002. Rodrigo Vilar, Sergio Vilar, não-identificada, Anax e Sergio (Filho do ex-jogador Véscio) (Foto: Papo Cultura)

Sérgio Góis lembra que o primeiro contato com o prefeito se deu por acaso no Mercado da Redinha. Na oportunidade foi comentada a necessidade de reconstrução do histórico prédio em frente.

E, segundo Sergio Góis, Aldo Tinôco enalteceu a importância do Redinha Clube para a praia e para a cidade e, num guardanapo de bar, deixou autorizado um convênio junto à Prefeitura para iniciar as obras.

O valor enxuto de R$ 6 mil, conseguido junto à Prefeitura de Natal bastou para reparos desde instalações elétricas às sanitárias. Para elevar o teto e conter as rachaduras foi feito um radier de concreto com 420 metros.

E apesar das janelas novas, as suas arcadas conservaram o mesmo estilo colonial de quando foi construído em alvenaria no ano de 1935. Da antiga associação de veranistas só ficaram mesmo as paredes, erguidas com pedras de arrecifes, e o piso de pedra de Parelhas em toda a sua área externa.

A reinauguração do Redinha Clube se deu apenas em 27 de janeiro de 1996 e reativou o equipamento depois do longo período de total inatividade.

Na placa alusiva à reinauguração, as palavras do eterno entusiasta da praia, João Alfredo: “Sonhar é melhor do que adormecer vencido pelo desencanto de não ter lutado. Redinha Clube é realidade”.

FESTA DO CAJU

A Festa do Caju embalou gerações de veranistas. Começou na década de 1960 banhada pelo espírito irreverente que marcaria os tempos áureos da Redinha, com embates de quem trazia o maior caju.

O “campeonato” mobilizava um número cada vez maior de veranistas, sempre regado a bebidas e fuzarca. E a proporção da disputa cresceu ao ponto de se tornar celebração anual, com data marcada na terceira semana de janeiro – uma tradição prolongada por quase duas décadas.

Em bilhete de texto curto e lírico, escrito a mão pelo advogado, jurista e acadêmico João Medeiros Filho, endereçado ao jornalista Woden Madruga e datado de 18 de dezembro de 1978, nominava o “fundador da Festa do Caju”. Assim constava no bilhete:

Woden Madruga:

Um abraço.

Estou novamente na Redinha, em residência permanente. Enfrento assim o provincianismo que entende só admitir a praia no veraneio. Suponho que a Redinha é hoje um bairro de Natal, perdendo aquela fisionomia tradicional de praia rústica, do tempo de Zerôncio. Aliás, minha rua foi por mim batizada de José Herôncio de Melo, o fundador da festa do Caju. Vou fazer da minha residência na orla marítima o meu universo, o meu reino.

Aguardo sua visita.

João Medeiros

Natal, 18/12/78”

O evento, promovido no Redinha Clube, tinha um cunho elitista. Participavam, além dos veranistas, convidados da alta sociedade natalense, sem presença dos nativos.

Conjuntos musicais da época, como Impacto Cinco e Banda Xodó tocavam para um salão lotado, até migrar para a quadra ao lado, com maior espaço para palco e plateia, enquanto o salão era tomado pelo serviço de bar.

A idade avançada daqueles veranistas, o desprestígio crescente da praia e, nos últimos anos de celebração, a violência, são motivos apontados para o fim da Festa do Caju. A última edição aconteceu em 1979.

O fim da Festa do Caju também coincidiu com o abandono do Redinha Clube. Somente com a reinauguração do prédio, após ampla reforma, houve uma tentativa de retomada da tradicional Festa, já em 1996, mas sem continuidade.

Em 2014, a atual administração de Sérgio Gois tem procurado reviver os tempos áureos e já contabiliza três anos consecutivos da Festa, ainda com presença de antigos veranistas acompanhados de filhos e netos, embora o glamour e a alegria contagiante da celebração tenham ficado mesmo nos braços seguros do passado.

FESTA DO CAJU

Quando rola janeiro e fevereiro, os natalenses ficam ansiosos primeiramente pelos shows de verão que acontecem na praia de Pirangi. No entanto, há algum tempo, mais precisamente nos anos 60 e 70, a Redinha era palco da Festa do Caju, que era bastante tradicional e acontecia na praia.

O nome era uma forma de celebrar o caju e suas variantes, uma vez que é um dos principais produtos do RN.

Era lá que os adultos se divertiam e os adolescentes paqueravam. Tanto que as pessoas associavam que janeiro era sinônimo de Festa do Caju. Acontecia no Redinha Clube, que era uma casa próximo da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes.

Sua construção foi a única tolerada pelos moradores e veranistas naquela linha de frente para o mar. O desejo do vislumbre da paisagem à frente, dos paquetes deslizando pelo mar, sem construções ou concreto para atrapalhar a vista fazia-se, naquela época, o papel de plano diretor da Redinha, elaborado pelos próprios entusiastas da praia.

O prédio estava sob a administração da Associação de Veranistas. A primeira sede era de madeira e somente em 1935, após uma reforma ergueram com as pedras da praia.

Como funcionava a Festa do Caju?

A Festa do Caju era uma mistura de São João com Carnaval, no qual tinham bandas que tocavam marchinhas e outras músicas do período.

Sempre era na segunda quinzena de janeiro. Além disso, tinha algumas brincadeiras, como o campeonato de quem fosse trazer o maior caju, no qual ganhava prêmio em dinheiro.

Um dos participantes e morador assíduo da Redinha era o João Medeiros Filho, hoje uma das principais vias que liga a praia da Redinha com os outros bairros da zona Norte de Natal.

Além disso, quem fundou foi João Herôncio de Melo, que também é nome de rua, próxima da orla.

A seguir, um anúncio, feito por um colunista da época:

O que tocava na Festa do Caju

O evento, no Redinha Clube, tinha um cunho elitista. Participavam, além dos veranistas, convidados da alta sociedade natalense, sem presença dos nativos. As bandas de baile tocavam para um salão lotado com bandas de baile, frevo e escolas de samba, cheio de moradores de Tirol e Petrópolis.

Participantes da Festa do Caju nos anos 70, arriscando colocar o pé na areia.


A festa tinha bastante prestígio, visto que recebeu uma crônica de Newton Navarro no Diário de Natal.

O fim da Festa do Caju

A idade avançada daqueles veranistas, o desprestígio crescente da praia e, nos últimos anos de celebração, a violência, são motivos apontados para o fim da Festa do Caju, que aconteceu em meados da década de 80.

 

Fontes:

Papo Cultura

Brechando.com

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Comentários (2)

  • Laerte Lopes de Lima Responder

    Lembro muita saudade fui veranista com meus pais Newton Melo de Lima Dante Melo de Lima na época foi presidente do Clube da Redinha e muitas histórias que tenho a contar que passaria anos

    21 de maio de 2022 at 20:19
    • Redação Responder

      Que coisa boa! Lembranças como essa sempre merecem ser compartilhadas. Obrigado, Laerte.

      22 de maio de 2022 at 09:29

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