Carlos Paz de Araújo – Um cientista potiguar à frente: ‘O futuro do futuro’

Foto: Léo Ramos

Um brasileiro pouco conhecido em seu país pode estar à frente de um novo tipo de tecnologia para memória de computadores e demais dispositivos eletrônicos.

Carlos Paz de Araújo nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte, e está há 42 anos nos Estados Unidos. É professor da Universidade do Colorado, em Colorado Springs, e sócio da empresa Symetrix, que ganhou importância no mundo nos últimos anos por ter desenvolvido e licenciado as memórias de acesso aleatório ferroelétricas (FeRAM) que estão em uso em mais de 2 bilhões de aparelhos, de smartphones a processadores eletrônicos, de eletrodomésticos a automóveis, DVD players e na mais jovem geração de cartões magnéticos com chips.

Essas são memórias não voláteis, que não perdem as informações quando se desliga a corrente elétrica e podem ser reutilizadas bilhões de vezes de forma diferente das memórias flash usadas em pen drives, mais lentas e com capacidade de reutilização não superior a 100 mil vezes.

As memórias voláteis são aquelas usadas nos computadores que utilizam disco rígido e funcionam com o auxílio de um software quando o equipamento é ligado.

A tecnologia desenvolvida por Carlos Paz foi licenciada para empresas como Panasonic, Siemens, Delphi, Hughes, Sony, Sharp e várias outras.

Embora há tanto tempo fora do país, ele guarda o sotaque potiguar e não lembra em nada um executivo que voa constantemente entre vários países da Ásia para expor em cifras de milhões de dólares suas inovações tecnológicas, como o Japão, onde é também professor consultor da Universidade Tecnológica de Kochi – além de assessorar a Universidade de Fudan, em Xangai, na China. Carlos Paz é antes de tudo um cientista.

Ele ficou durante sete anos estudando sozinho as memórias resistivas que devem substituir as ferroelétricas e são candidatas a memórias universais para uso em pen drives, máquinas fotográficas, notebooks, desktops, e também em celulares a um custo baixo. Uma situação diferente da atual, quando existem vários tipos de memória, uma para cada uso.

O resultado do estudo de Carlos Paz é a memória CeRAM (correlated electrons ram), que deve eliminar o disco rígido dos computadores e tornar o processamento deles mais rápido. Desenvolvida na Symetrix, a nova tecnologia já está sendo testada por grandes empresas do setor.

A empresa fatura por ano US$ 4 milhões apenas com royalties e não licencia qualquer tecnologia por menos de US$ 20 milhões. Por todas essas contribuições, Carlos Paz foi o primeiro brasileiro a ganhar um prêmio por inovação tecnológica do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), com sede nos Estados Unidos, o Daniel Noble, considerado o Nobel da área de engenharia eletrônica. Essa entidade tem mais de 300 mil membros em 160 países.

A vida acadêmica de Paz começou na Universidade de Notre Dame, em South Bend, no estado norte-americano de Indiana, onde fez a graduação em engenharia elétrica, mestrado e doutorado na área e também se graduou em filosofia e teologia. Aos 60 anos de idade, casado com Maureen Paz de Araújo, uma norte-americana, também professora da Universidade do Colorado, e com três filhos, Carlos Paz vem poucas vezes ao Brasil.

Na mais recente, ele concedeu essa entrevista a Pesquisa FAPESP durante o XII Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais, realizado em Campos do Jordão, no interior paulista.

Idade: 60 anos

Especialidade: Engenharia de dispositivos eletrônicos

Formação: Graduação em engenharia elétrica, mestrado e doutorado na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos

Instituições: Universidade do Colorado, em Colorado Springs, e Symetrix Corporation

Produção científica: 310 artigos, 203 patentes nos Estados Unidos e 321 patentes em outros países

Como foi sua trajetória de Natal até a Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos?

Eu fui primeiro para Chicago como estudante de intercâmbio, aos 17 anos. Era para ficar três meses, fiquei seis e voltei para Natal. Depois fui convidado pela família que me hospedou para voltar e aí, com 18 anos, fui fazer um intercâmbio novamente.

Na época, eu estava no segundo científico [um dos cursos equivalentes ao atual ensino médio]. Voltei para o Brasil, comecei a fazer o terceiro científico e então me chamaram novamente. Terminei o científico nos Estados Unidos. A família americana tinha sete filhos, nenhum com média para entrar na Notre Dame, conhecida como a Harvard católica, e eles queriam que alguém entrasse.

Consegui e fiquei lá por 10 anos. Depois do doutorado fui convidado para ser professor na mesma instituição, mas fiquei apenas seis meses porque a Universidade do Colorado me fez uma boa oferta e estou lá desde 1982.

Na sua ida para a Universidade do Colorado o senhor já trabalhava com microeletrônica, semicondutores?
Isso, com semicondutores, em física de dispositivos eletrônicos, que é uma área de engenharia eletrônica, e não de física, apesar do nome. Um ano depois entrei na área de ferroeletricidade.

Veja a entrevista completaconcedida a Marcos de Oliveira AQUI

Fonte: revistapesquisa.fapesp.br

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Comentários (8)

  • Carlos Alberto dos Santos Responder

    Em 2008 publiquei na minha coluna da Ciência Hoje Online sobre esse trabalho de Carlos Paz de Araújo: https://cienciahoje.org.br/coluna/perfil-de-um-patenteador/

    29 de agosto de 2022 at 09:56
    • Redação Responder

      É um grande estudioso.

      31 de agosto de 2022 at 08:46
  • Via WhatsApp Responder

    Fernando Tavares:
    “Esse cara é um gênio ( Potiguar)…”

    Roberto Aladim:
    “Esse ilustres e desconhecidos potiguares, esse nosso estado e país deixando a desejar.”

    28 de agosto de 2022 at 22:58
  • Carlos Paz de Araujo Responder

    Nao sei como esta reportagem antiga voltou a Internet.

    Hoje eu ja desenvolvi a memoria quantica que ja foi licenciada a mesma companhia que licencia a Aplle. TEsta eh mais importante mas nao esta em producao. Obrigado por se lembrarem de mim com carinho em Natal. A terra que nunca esqueco. Mas, sai de la com 18 e hoje ja com 69, me sinto ainda Potiguar.

    28 de agosto de 2022 at 22:36
    • Redação Responder

      Recebi de um amigo que achou – com razão – que pouca gente do RN e do Brasil conhece seu trabalho. Também avaliei dessa forma e, realmente, muita gente gostou. Eu, como já lhe conheço desde que casei com Tânia, fizz questão de compartilhar.

      28 de agosto de 2022 at 22:46
  • Fernando Luiz Duarte Responder

    Parabéns a esse menino filho de Seu Manezinho e de dona Dedé,

    28 de agosto de 2022 at 18:35
    • Carlos Paz de Araujo Responder

      Obrigado.

      Dona Dede Faleceu ha 8 dias e Seu Manoelsinho em 7 de Janeiro de 2019, 13 dias apos seu Aniversario de 90 anos. Natal sera sempre o lugar onde comecei a sonhar. Eles agora estao juntos onde a vida finalmente faz sentido: na eternidade.

      28 de agosto de 2022 at 22:33
    • Marcelo Barreto Responder

      Estive em sua residência em Colorado Spring Colorado. Na oportunidade quando fomos buscar meu filho Marcelo Henrique quando na conclusão do intercâmbio em Denver, Colorado.
      Marcelo Barreto.

      29 de agosto de 2022 at 08:12

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