Cinema: “Lunana: Um iaque na sala de aula” – Crítica de Newton Ramalho

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Uma escola no topo do mundo

 

Para nós que vivemos no privilegiado mundo globalizado e conectado, é difícil entender que existem outras realidades bem diferentes. Essa disparidade é mostrada brilhantemente no interessante filme butanês “Lunana: Um Iaque na Sala de Aula” (“Lunana: A Yak in the Classroom”, BT, 2019), que está entre os finalistas na categoria Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2022.

Confesso que fui obrigado a recorrer à internet para saber mais sobre Butão. Descobri que é um pequeno país encravado nas montanhas entre Índia e China, com uma área total inferior ao estado do Rio Grande do Norte e uma população total próxima à da cidade de Natal. Essa pequena monarquia constitucional tem uma forte ligação com o budismo, que é a religião oficial, e dois terços da população são alfabetizados, o que é notável para um país com boa parte da população vivendo nas montanhas e áreas rurais.

É nesse universo de contrastes que vamos encontrar o protagonista, Ugyen Dorji (Sherab Dorji). Ugyen é um jovem bem antenado, que vive em Thimphu, a capital do país, onde trabalha como professor num contrato obrigatório com o governo. Mas, o sonho de Ugyen é emigrar para a Austrália e ser cantor, o que o leva a relegar o seu trabalho atual.

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Por conta disso, o jovem é punido com a designação para Lunana, uma aldeia nas montanhas. O local é tão inóspito que, segundo a chefe de Ugyen, “a escola de Lunana não é apenas a escola mais remota do Butão, mas, provavelmente, do mundo”.

A punição de Ugyen não fora por acaso. Num país onde o maior sonho é trabalhar para o governo, e o professor é altamente respeitado, a atitude de Ugyen era praticamente uma ofensa. No país existe o programa “Felicidade Interna Bruta”, que exige que se ofereça educação para cada criança, não importa onde estejam.

E assim começa a longa jornada de Ugyen, primeiro em uma van e depois numa caminhada de oito dias através das montanhas, com altitudes que chegam a cinco mil metros. E se a viagem já foi chocante, ao chegar na aldeia de Lunana, o jovem fica ainda mais estupefato.

A escola consiste numa velha casa, praticamente sem nenhum material didático, não existe energia elétrica, e Ugyen será responsável pelas oito crianças da aldeia, que tem uma população total de 56 pessoas.

É curioso o processo de renascimento de Ugyen como ser humano, desde a longa jornada aos cuidados do guia Michen (Ugyen Norbu Lhendup), as conversas com o atencioso chefe da aldeia Asha (Kunzang Wangdi) e a pastora de iaques Saldon (Kelden Lhamo Gurung), que o encanta com suas canções tradicionais e a voz maviosa. Ugyen também aprende muito com seus próprios alunos, especialmente a capitã da turma Pem Zam (Pem Zam), que quem o ajuda com os problemas da escola.

Enfim chegará o momento em que Ugyen terá que deixar a aldeia, mas o homem que desce das montanhas é muito diferente daquele que subiu. O título do filme remete à crença nas reencarnações e na importância que tem o iaque na cultura montanhesa.

Este filme foi escrito e dirigido por Pawo Choyning Dorji, um jovem fotógrafo butanês de 38 anos, que conseguiu o raro feito de não apenas retratar o se país e a sua cultura, como também mostrar o choque de realidades dos jovens atuais nas suas diversas instâncias.

Um aspecto interessante, que talvez cause estranheza em nossas plateias, é a ausência de relacionamento romântico, ou simplesmente físico. Tudo é muito contido, e ninguém se toca, mesmo em momentos de emoção. Há uma sugestão de romance entre o protagonista e uma pastora, mas sempre num nível implícito.

“Lunana: Um Iaque na Sala de Aula” não é apenas um filme exótico. É fluido e agradável de assistir, e quase não se percebe a duração de 1h 50m. Além da indicação ao Oscar 2022 de Melhor Filme Estrangeiro, este filme ganhou dezoito prêmios e teve mais dez indicações em diversos festivais internacionais de cinema.

Este filme é uma oportunidade para não apenas observar algumas paisagens surpreendentes e raramente vistas, como também conhecer um pouco da cultura daquele que é considerado o país mais feliz do mundo.

www.colunaclaquete.com.br

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

Vejam a crítica em http://www.colunaclaquete.com.br/

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