Crer ou não crer: eis a questão (Minervino Wanderley)

Calma, não se trata de Deus, Alá, Buda ou outro ser cultuado mundo afora. Crer é acreditar, confiar, “botar a mão no fogo”. Se prestarmos atenção às nossas vidas, elas foram permeadas por essa dúvida: crer ou não crer em algumas pessoas.

Pode ser o amigo, a namorada, o professor, o motorista do carro que vai cruzar o sinal, o médico, o advogado, e mais um bocado de gente. Talvez escapem os pais. Acontece, mas é muito difícil.

Já confiar nos filhos é meio complicado. Não precisa ir longe. Falemos de nós. Basta lembrar quantas vezes – quando éramos filhos – demos aquela escapada fortuita dos nossos pais, dizendo que íamos para um lugar e nosso destino era outro, exatamente aquele que eles não queriam que fôssemos? Não merecíamos confiança, não é verdade? Mas vamos debitar essa conta à idade, tá feito?

“Mas aonde esse cara quer chegar?”, vocês devem estar perguntando. Com total razão. Estou arrodeando para chegar ao inverso da confiança: a traição. Não há dor mais lancinante na alma do que se ter a certeza de que foi traído. Ou, talvez, nada pior para tirar o sono do que a dúvida da traição. Não falo somente entre homem e mulher – todos pensam logo nisso.

Ela é mais abrangente. Claro que a traição no contexto do amor entre um casal é a mais comentada. Não restam dúvidas quanto a isso. A prova está nos compositores e cantores do gênero “sofrência” que estão cheios da grana e com as agendas lotadas. Haja chifre!

Por falar nisso, vamos abrir um espaço e mandar um carinhoso “fique com Deus” para Marília Mendonça. Não a conhecia direito, mas durante a turbulência que circundou sua bruta morte, com vários clipes rodando nas mídias, tive oportunidade de conhecer uma pessoa extremamente brilhante naquilo que fazia.

Simpática, dona do seu pensamento, fez com que as vozes presas nas gargantas de milhões de mulheres ganhassem reverberação por meio das suas composições e interpretações.

Sem nunca ter escutado uma faixa sequer dela, bastaram alguns sinceros  depoimentos e vê-la falar da vida daquela forma tão vibrante, para que uma descuidada lágrima caísse do meu olho. Marília era forte. Ela conseguiu atingir até quem a nunca viu cantando, como foi meu caso. Portanto, aqui vão meus respeitos e meu lamento pelo seu desaparecimento. A vida precisa, pede e anseia por mais “Marílias”, sinceramente.

 Bem, voltando a este mundo, a traição esteve presente nele desde a sua criação. A metáfora de Adão, Eva e a serpente, deixa isso evidente.  Não à toa, é o assunto preferido das rodas de fofocas. “Menina, sabe quem está saindo com Fulano? Aquela do 1220, metida a besta. E o marido nem sonha.”, ou “Rapaz, aquele cara chegou há pouco na empresa e já quer ser chefe. Quer passar na frente da gente? Vai não.” Tem para todos os gostos.

Ficam as perguntas: Por quê? O que move o homem ou a mulher a trair? Adrenalina? Mera sacanagem? Inconsequência? Por que fazer com o outro aquilo que não quer que façam com você? Sei lá! O que sei é que a traição é falada até pelo padre na hora do casamento. “Promete ser fiel, etc. e tal?” Papo furado. Na hora “H” se promete de tudo. Depois é que as coisas acontecem.

Se a pessoa não tem isso em mente, basta começar a assistir novelas. É quase um manual “passo a passo” de como ser um traidor. E o pior é que nas telas não é só no amor. Nas novelas os autores vão mais longe. Chegam aos negócios, às amizades, ao profissionalismo, em tudo eles dão um jeito de mostrar que qualquer um pode, sim, ser um Judas.

O que posso dizer é que, quando se atinge uma determinada idade – eu cheguei lá – o mundo passa a ter outro valor, outro sentido. Quem traiu, arrepende-se e retira essa espécie de mácula da consciência. Quem foi traído, abranda o coração e, em silêncio, perdoa. Aliás, pense numa palavra bonita! É muito difícil pedir perdão, e talvez seja até o mais nobre dos gestos. Só perde mesmo para quem o dá.

Na verdade, com ou sem traição, há coisas que realmente importam na Vida: a família e os amigos. Se porventura você os traiu e não tem mais como se retratar, ponha-se de joelhos e se perdoe. É a solução para a angústia do remorso. Por outro lado, se foi traído, deixe que o ressentimento saia da sua alma levada pela suave e gostosa brisa da paz.

Levar a vida sem cometer erros é impossível. São eles que nos mostram o caminho que devemos trilhar. Pode ser monótono, mas nada como dormir com a cabeça vazia de problemas.

Quando já estamos na linha descendente da existência – não tem jeito – adquirimos o poder de enxergar a vida por outro ângulo. Na minha vida há duas coisas que não tenho dúvidas e que não me arrependo de ser: a primeira é ser honesto com as coisas. É melhor o bolso vazio do que transbordando de dinheiro ilegal. A outra é ser honesto comigo mesmo. É bem melhor a solidão do que conviver com quem não lhe faz feliz.

Portanto, trate a vida com carinho que você receberá esse carinho de volta no momento propício. Vamos dar aos nossos filhos e netos os conselhos dados pelos nossos pais: “Tenham juízo!”.

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