Empresa cria “Pix internacional” com tarifa de apenas 0,38%; entenda

Plataforma permite que brasileiros paguem em real, fora do país, com taxa menor do que a cobrada no cartão de crédito; veja como funciona

Celular com aplicativo do Pix aberto – MetrópolesHugo Barreto/Metrópoles

Lançado em novembro de 2020 pelo Banco Central (BC) e rapidamente popularizado em todo o Brasil, o Pix começou a ganhar o mundo. Em novembro de 2022, exatos dois anos após o surgimento do sistema instantâneo de pagamentos e transferências financeiras, a Agillitas, instituição de pagamentos do Banco Rendimento, lançou o Rendix, que funciona como uma espécie de “Pix internacional”.

A nova plataforma, autorizada pelo BC, facilitou a vida dos brasileiros que vão ao exterior e, até então, não conseguiam fazer compras por meio do Pix fora do país. Agora, basta encontrar uma loja ou estabelecimento comercial que tenha aderido ao Rendix para efetuar o pagamento de forma instantânea, como ocorre no Brasil.

Com o novo sistema, os lojistas emitem um QR Code, por meio do qual o consumidor faz o pagamento. Uma das maiores vantagens da plataforma é que, em vez dos 6,38% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas compras no cartão de crédito em moeda estrangeira, a alíquota cobrada é de apenas 0,38% por transferência.

Outro motivo de alívio para os clientes é que, ao contrário das taxas de câmbio cobradas pelos cartões no dia de fechamento da fatura, o Rendix processa o câmbio do momento da compra. O consumidor é informado na hora, com uma mensagem eletrônica, sobre a taxa que está pagando naquela transação internacional.

“A vantagem para o lojista é que ele não tem nenhuma taxa de desconto associada a essa operação, não tem as taxas de maquininha que vemos por aqui. Então, ele tem o interesse de oferecer o meio de pagamento para o cliente. Uma outra vantagem é que o lojista não fica preso ao limite do cartão do consumidor”, afirma o CEO da Agillitas, Henrique Capdeville, em entrevista ao Metrópoles.

“O consumidor digita o seu CPF, nós pegamos esse CPF do portador e fazemos algumas validações regulatórias que são importantes”, explica Capdeville. “No momento de pagar, o cliente abre o aplicativo do seu banco. Pode ser qualquer banco brasileiro que opere o Pix. Ele lê o QR Code, faz a transferência e essa transação, em um primeiro momento, ocorre em reais. Esse cliente manda o dinheiro para a Agillitas e nós fazemos uma operação de câmbio que tem como beneficiário o lojista no exterior.”

O Rendix foi criado como uma plataforma de serviço eFX (Electronic Foreign Exchange ou transferência internacional eletrônica, na tradução para o português). A categoria engloba os serviços de pagamentos ou transferências internacionais operados digitalmente e devidamente regulamentados pelo BC.

“Disponibilizamos ao vendedor uma plataforma web, que não exige qualquer tipo de integração do lado do lojista. Não é um arranjo de pagamento lá fora, não somos Visa ou Mastercard. É apenas uma forma de o nosso cliente aceitar o pagamento em dinheiro em outra divisa, que é o real”, detalha Capdeville.

Até o momento, segundo a Agillitas, cerca de 30 estabelecimentos comerciais no exterior utilizam o Rendix, a maioria localizada na América Latina. O modelo tem sido cada vez mais usado, principalmente, em cidades em que há forte presença de turistas brasileiros, como Buenos Aires e Bariloche (Argentina), Punta Del Este (Uruguai) e Ciudad Del Este (Paraguai).

Também há lojas e departamentos comerciais que já usam o Rendix na França, em Portugal e nos Estados Unidos. Até no Catar, no fim do ano passado, foi possível comprar produtos e ingressos para alguns jogos e eventos relacionados à Copa do Mundo por meio do Pix.

“Quem viaja com frequência para outros países sabe que não se encontra tão facilmente cotações em real. É sempre necessário converter para uma moeda como dólar ou euro para fazer as transações, mesmo nas casas de câmbio. Com esse produto, nós conseguimos expandir o real como uma divisa de uso internacional”, diz o CEO da Agillitas.

O Pix funciona como uma transferência digital instantânea, usando uma chave de identificação que pode ser o número de telefone, CPF, CNPJ, QR Code e e-mail.Cada chave, porém, só pode ser usada uma única vez por instituição. Ou seja, quem tem conta em mais de um banco só poderá usar o e-mail como chave em um deles, podendo usar o telefone na segunda, por exemplo.

A espera por uma transferência feita na sexta-feira, até as 18h, cair na conta somente na segunda-feira, teve fim com a ferramenta. As pessoas podem movimentar dinheiro em tempo integral.

No início de novembro de 2020, instituições financeiras começaram a liberar o pré-cadastro do Pix para os clientes, dentro dos aplicativos oficiais dos bancosHugo Barreto/Metrópoles

BC quer lançar Pix internacional até 2025

A iniciativa da Agillitas, de certa forma, é uma prévia dos planos do próprio BC, que tem entre seus projetos a internacionalização do Pix. De acordo com o Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do BC, a implementação do Pix internacional “oficial” deve ocorrer em 2025.

Segundo a autoridade monetária, o produto começará a ser desenvolvido já em 2023, o que envolve desde a concepção até a realização de testes. O objetivo é iniciar a produção no segundo semestre de 2024, ainda de forma experimental, para que o lançamento aconteça no primeiro semestre de 2025.

De acordo com o BC, o Pix internacional deve demorar alguns anos para se tornar realidade porque envolve complexas integrações entre diversos sistemas e depende do ritmo de implementação em cada país – o que não está sob controle da autoridade monetária brasileira.

“Conectar sistemas domésticos de pagamento instantâneo é certamente um caminho possível para esse fim. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para harmonizar regulamentação, tecnologia e operações em diferentes sistemas de pagamento”, diz o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, Renato Gomes.

Para Capdeville, da Agillitas, o surgimento do Pix internacional “oficial” não prejudicará o Rendix. Ao contrário: a plataforma tem tudo para crescer ainda mais.

“Isso vai fortalecer o nosso negócio. Hoje, a dificuldade é encontrar um parceiro local que possa fazer a última milha da liquidação. Eu pego o real do meu cliente, converto em dólar e encontro um banco local que tem acesso à liquidação local para fazer a última linha de pagamento”, explica. “Quando o BC criar o Pix internacional, ele vai permitir a entrada dos bancos brasileiros nesse trilho de liquidação internacional, para que não seja preciso procurar um parceiro lá fora. Só vai facilitar o nosso trabalho.”

Pix pelo mundo

Diante do sucesso do Pix no Brasil, outros países têm se debruçado sobre novos sistemas de transferências e pagamentos instantâneos, em formatos semelhantes ao modelo brasileiro.

O Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), considerado “o Banco Central dos Bancos Centrais”, vem testando a plataforma Nexus, que permitirá transferências financeiras instantâneas para cerca de 60 países.

Países da zona do euro, com intermediação do Banco Central Europeu (BCE) e do BIS, além de Malásia e Cingapura, já estão testando o Nexus. O Brasil participa dos testes e do desenvolvimento da plataforma como consultor. Nos Estados Unidos, o sistema FedNow deve ser lançado no primeiro semestre deste ano e promete acabar com o uso de cheques no país. Há iniciativas semelhantes em China, Índia e Austrália.

Em 2022, o Pix movimentou R$ 10,9 trilhões, segundo dados do BC. O montante corresponde a mais do que o dobro do valor registrado em 2021 (R$ 5,21 trilhões). O total movimentado pelo Pix no ano passado supera em mais de duas vezes o valor de pagamentos por boletos (R$ 5,3 trilhões).

Em número de transações, o Pix aparece na liderança com folga: 24,3 bilhões apenas em 2022, ante 4,03 bilhões de pagamentos por boletos e 1,01 bilhão de TEDs. Apenas em dezembro, os usuários do Pix realizaram 2,9 bilhões de operações. No mês passado, o Pix contava com 141,6 milhões de usuários cadastrados e 550,8 milhões de chaves registradas (CPFs/CNPJs, e-mails, celular e sequências aleatórias).

Fonte: Metrópoles

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