Hollywood odeia velhos? (Rodrigo Salem – Direto de Los Angeles)

Netflix divulga as primeiras imagens de Bradley Cooper irreconhecível como Leonard Bernstein em “Maestro” e gera reclamações vazias.

“Maestro”/Neftlix

Olhe bem para a foto.

Consegue saber quem é a figura sem olhar a chamada desta newsletter?

O velhão aí em cima é ninguém menos que Bradley Cooper como o maestro Leonard Bernstein na primeira imagem de “Maestro”, seu primeiro filme como ator e diretor desde o sucesso de “Nasce Uma Estrela”.

O longa sairá pela Netflix em algum momento de 2023, possivelmente fim do ano para disputar prêmios.

Mas a turma da problematização já começou a reclamar.

“Por que não contratar um ator velho para o papel?”

Nunca nem pensei em escrever uma explicação, porque ela sempre me pareceu tão óbvia.

Normalmente, eu respondo o seguinte: “Sua pergunta, por si só, já explica a razão da escolha”.

Afinal, você acha que a escalação de, por exemplo, David Strathairn, que tem 73 anos, um a mais que Bernstein quando morreu, teria a mesma repercussão que a de um Bradley Cooper, que está com 47 anos?

O fato de ser um galã escondido por baixo de toneladas de maquiagem desperta um furor ao projeto que normalmente não seria gerado por um ator que não exige tanta trucagem.

Neste momento, pode procurar na Internet, há diversas publicações para um público que mal ouviu falar do maestro americano de raízes ucranianas estampando as fotos do longa e manchetes como “Bradley Cooper irreconhecível em novo filme da Netflix.”

É “Marketing para Idiotas”, pô.

Além disso, existe outra razão para Bradley Cooper assumir o papel do filme que ele implorou para dirigir quando falou com Steven Spielberg, diretor original.

Carey Mulligan e Bradley Cooper em “Maestro”/Netflix

“Maestro” não é apenas sobre o período consagrado de Bernstein, mas também sobre sua juventude até se tornar o primeiro condutor americano a liderar uma das grandes orquestras sinfônicas do país -feito realizado quando ele tinha 40 anos.

Ou seja: Cooper poderia contratar um ator mais velho e rejuvenescê-lo com digitalização, algo que custa mais dinheiro e gera resultados, digamos, nem sempre satisfatórios.

Ou pegar um ator mais jovem e envelhecê-lo com maquiagem, que é mais barato, gera mais publicidade e ainda concorre a prêmios.

O que você escolheria?

O problema é que é preciso problematizar. Não que alguém realmente se importe com a situação da terceira idade em Hollywood.

É tudo para gerar engajamento e passar uma imagem de bom ser humano digital.

Vejam se Richard Kind teria conseguido tantos elogios ao Pinguim de “Batman”, vivido por um Colin Farrell por baixo de quilos de próteses. Kind é um ótimo e engraçado ator, mas a mídia gosta de vender e ouso dizer que ele não geraria um terço do que rendeu a presença de Farrell.

Foi a mesma comoção com Jared Leto em “Casa Gucci”, sendo que todo mundo esquece que o ator sempre gostou de desaparecer em seus papeis, como em “Clube de Compras Dallas” e “Clube da Luta”.

Respondendo a pergunta da newsletter: sim, Hollywood odeia velhos, sempre odiou, mas não é por isso que estão usando galãs/estrelas em papeis de velhos/velhas.

Cinema ainda é ilusão. Ilusão ainda rende conversa. Conversa ainda rende bilheteria.

É apenas grana, grana gerada por publicidade grátis, pela fascinação do espectador comum, do leitor.

Fizeram o mesmo com Tilda Swinton, Willem Dafoe, Jessica Chastain, Charlize Theron, Eddie Murphy.

E se você ainda duvida, pense numa coisa:

Por que você está aqui lendo esse texto?

Fonte: Desafiador do Desconhecido

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Comentário (1)

  • carlos alberto cunha Responder

    Porque sou velho. Rs

    31 de maio de 2022 at 15:43

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