Natal na II Grande Guerra (Parte II): a vinda de Walt Disney, o “embaixador da boa vizinhança”, ao Brasil

Walt Disney no Rio – Foto; Diário do Rio

Um outro fato que demonstra o valor de Natal para os Estados Unidos, foi a vinda o cineasta Walt Disney ao Brasil. A viagem deveria ter como justificativa a procura de novos talentos e a busca de inspiração para futuras produções. No entanto, pode-se identificar motivações políticas no programa que o visitante cumpriu. Entre apresentações, palestras, exibições de filmes, jantares e recepções, o “embaixador da boa vizinhança” se avistou, em duas ocasiões, com Lourival Fontes, diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

Zé Carioca (Joe Carioca)

©Diário do Rio

O personagem  foi criado pelo americano, fruto de uma estratégia política norte-americana de aproximação com os países latino-americanos, para o crescimento das relações comerciais e sob a preocupação de afastar a influência alemã nos governos desses países. O primeiro filme do Zé Carioca, Alô Amigos, exibido em 1942, começava assim: “Alô amigos, a vocês uma querida saudação, um gostoso aperto de mão. Amigos fazem assim, alô amigos”. O Zé carioca (ou Joe Carioca como foi concebido por Disney e sua equipe) teve a influência de um notório boêmio da noite do Rio de Janeiro, conhecido como Dr. Jacarandá, de quem Zé Carioca tomou emprestado o fraque, o chapéu e o guarda-chuva, e de um músico paulista, José Patrocínio de Oliveira, o Zezinho, de quem recebeu o espírito malandro.

Carioca da gema, o Zé foi desenhado por Walt Disney dentro do hotel Copacabana Palace, com o pretexto de ‘encontrar novos companheiros para o Pato Donald e o Pateta’. Zé Carioca foi inspirado, basicamente, em três pessoas. No cartunista J. Carlos – que colaborou nos primeiros rascunhos do personagem. O estilo (fraque, chapéu e guarda-chuva) veio do doutor Jacarandá, famoso no Rio de Janeiro daquela época. E, por incrível que pareça, o jeitão boêmio foi emprestado de um músico de São Paulo: José do Patrocínio de Oliveira, o Zezinho. Inclusive, o multi-instrumentista, que chegou a tocar com Pixinguinha, gravou a voz do papagaio carioca.

Os Encontros

O primeiro encontro aconteceu no Cassino da Urca, ocasião em que foi oferecido um jantar, seguido de show especial para o convidado, com Russo do Pandeiro e Linda Batista. O segundo foi bem mais solene, uma conferência sobre a solidariedade continental, realizada no Palácio Tiradentes.

Acerca da vinda de Walt Disney ao Brasil, e sua agenda, o historiador Sidney Ferreira Leite nos diz: “Contudo, o ponto alto da visita foi a reunião com o presidente Vargas, ocasião em que Disney falou sobre os princípios que norteavam a boa vizinhança e a disposição das autoridades americanas em estreitar os laços de amizade com o Brasil”.

Ora, fica evidente que os tais “laços de amizade” eram feitos por puro interesse do governo americano. Leite prossegue: “Como consta no relatório de viagem, ao contrário do que se poderia prever, o presidente brasileiro mostrou-se receptivo às suas manifestações. Tal receptividade animou o governo Roosevelt, pois demonstrou a disposição de Vargas em cooperar para o sucesso dos projetos que pretendia desenvolver no país, entre eles a construção de uma base naval no litoral brasileiro (base que futuramente seria em Natal), vital para os interesses estratégicos de segurança dos Estados Unidos”.

Dessa forma, não restava, portanto, qualquer dúvida sobre o que o futuro reservava para Natal. A pequena vila tomava ares de grande importância naqueles tempos de conflito, passando a ser tratada como de vital importância para a segurança da maior potência mundial. Restava-lhe assim, cumprir o seu papel dentro da História.

 

Obs.: no próximo capítulo, vamos abordar a chegada dos americanos a Natal e a consequente mudança nos hábitos dos natalenses.

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