O que representa o sucesso de “Guerra Civil”? (Rodrigo Salem)

Contra as expectativas, “Guerra Civil” continuou a liderar as bilheterias norte-americanas na sua segunda semana em cartaz -leia minha crítica AQUI.

As apostas para o fim de semana eram em “Abigail”, filme sangrento de horror, gênero que normalmente chama mais público que dramas distópicos de guerra, independentemente da qualidade.

Não colou. O público parece mais seletivo em relação ao terror neste início de ano, já que todos os filmes tiveram performances abaixo do esperado. Normal, o gênero sempre navegou em ciclos. Basta um novo sucesso para mudar tudo.

Bom para “Guerra Civil”, que faturou mais US$ 11 milhões no segundo fim de semana e se manteve no topo dos mais vistos. Não tão bom para o mercado no geral, já que foi um dos piores fins de semana do ano com US$ 64 milhões de renda total entre todos os longas.

A queda de 56% entre o fim de semana de estreia e o seguinte foi um pouco brusca para “Guerra Civil”, mas não trágica, já que este tipo de longa provocativo costuma dividir o público -ainda mais em ano de eleição.

Melhor: o filme de Alex Garland com Kirsten Dunst, Wagner Moura e Cailee Spaeny já ultrapassou os US$ 50 milhões no mundo todo, igualando o orçamento inicial do projeto, o mais caro do estúdio A24.

Ultrapassou o horror “Hereditário” entre as maiores bilheterias da A24 nos Estados Unidos e deve ser tornar em breve a segunda melhor bilheteria do estúdio em todos os tempos, superando “Fale Comigo” (US$ 48.2 milhões), “Lady Bird” (US$ 48.9 milhões) e “Joias Brutas” (US$ 50 milhões).

Não é pouca coisa.

O desafio para o filme será alcançar os números de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, que faturou US$ 77 milhões nos EUA e US$ 111 milhões em todo o mundo -com metade do orçamento.

Não é impossível.

O projeto ainda está engatinhando no mercado internacional e os números ainda estão sendo contabilizados. Mas, no Brasil, como esperado, estreou em primeiro lugar com uma renda superior a R$ 6 milhões, melhor estreia da A24 no país.

A concorrência não está muito forte nas próximas semanas. Na Europa, há a chegada de “Back to Black”, cinebio da cantora Amy Winehouse, que já ficou em primeiro lugar na Itália e no Reino Unido -apesar de “Guerra Civil” ter sofrido uma queda de apenas 33% em relação ao fim de semana anterior, quando liderou a tabela.

Para dar bastante lucro, o longa de Garland deverá chegar aos US$ 100 milhões, porém a A24 não brinca apenas de fazer dinheiro na primeira janela. O estúdio independente, mas bancado por pessoas com muita grana, fatura com o prestígio dos seus lançamentos também a médio prazo -não por acaso a Apple estava de olho nele para uma aquisição.

No fim do ano passado, a Warner Bros. Discovery comprou os direitos de exibir os filmes da A24 com exclusividade nos seus serviços de streaming. Os números não foram revelados.

Como é uma empresa sem distribuição internacional, a A24 também vende seus projetos para terceiros. No caso de “Guerra Civil”, por exemplo, a Diamond Films comprou os direitos de exibir o longa nos cinemas brasileiros.

O mais importante é que “Guerra Civil” é um passo adiante para o estúdio. Ela certamente terá seu investimento de volta e não traiu seus “princípios” de focar em qualidade para adultos. A A24 consolidou uma marca em 100 filmes e 12 anos de vida. Não é pouco. Alguém escreveu que “A A24 é a Marvel para cinéfilos adultos”. Pode ser.

Bato nesta tecla porque o estúdio é um dos poucos a bancar o que um dia foi o suprassumo de Hollywood: os filmes originais de médio orçamento.

Quando todos os gigantes investem em propriedades intelectuais, sequências e adaptações com orçamentos grandiosos, a A24 prefere criar um catálogo decente, lucrar um pouco menos (talvez) e pensar a longo prazo.

“Guerra Civil” foi o estúdio sentindo a profundidade da água. O sucesso do filme, um marco para que eles continuem a apostar em material provocante, original e incomum.


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