PENSE! Agecom Completa 21 Anos Focada Em Ampliar A Popularização Da Ciência Na UFRN

Algumas das principais contribuições para o desenvolvimento da sociedade foram pensadas dentro de um laboratório ou grupo de pesquisa. Cientistas de todas as áreas dedicam suas vidas a encontrar soluções para os principais problemas de seu tempo, mas, para isso, precisam seguir todos os protocolos e rigores da ciência que exige método, checagem e revisão. Cada área tem sua linguagem, códigos e expressões que nem sempre são de fácil acesso à compreensão geral e é nesse ponto que entra o trabalho do jornalista. Completando 21 anos de atuação, a Agência de Comunicação (Agecom) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sempre se preocupou em ser uma ponte para ajudar na comunicação entre cientistas e sociedade. Isso ficou ainda mais evidente no último ano quando a popularização da ciência vem sendo uma das principais prioridades do setor.

Até setembro de 2020, a Agecom publicou 70% mais textos de ciência em sua produção diária do que todo o ano passado, quando apenas 5% do material enviado para o portal de notícias tinha relação com o tema. Neste ano, 14% de toda a produção até o último dia 25 (1.731 textos) foram dedicados a divulgar ações envolvendo pesquisa científica realizada ou em desenvolvimento dentro da UFRN. Esse número é maior se consideradas as reportagens especiais publicadas no portal institucional. Dos 64 textos divulgados em 2020, 75% são de divulgação da ciência. Isso representa 28% a mais do que todo o ano de 2019, quando apenas 47% dos especiais foram dedicados a esse tipo de comunicação. Se comparado mês a mês, a diferença é ainda mais abissal, variando de percentuais que vão de 140% a 1.134%, como o registrado nos meses de julho de ambos os anos.

Para o jornalista e pesquisador Herton Escobar, uma das principais referências do Jornalismo Científico, as universidades e institutos de pesquisa brasileiros precisam superar sua dependência da mídia tradicional e produzir conteúdo jornalístico próprio de qualidade, passando a se comunicar diretamente com a sociedade, sem a necessidade de um mediador que nem sempre tem o tempo, o espaço, o interesse ou os recursos humanos necessários para publicar tudo que merece ser divulgado. Na visão do diretor da Agecom, jornalista José de Paiva Rebouças, a UFRN não tem qualquer interesse de concorrer com a imprensa, mas de gerar pautas e fontes de notícias qualificadas para a comunicação do Rio Grande do Norte.

“Os números envolvendo a popularização da ciência na Agecom são importantes em vários aspectos, um deles é a visibilidade externa da UFRN. No segundo semestre de 2019, contribuímos com o aumento das citações positivas sobre a universidade em 14% e em 2020, temos percebido,  por nosso levantamento estatístico, que as notícias de pesquisas têm ganhado muita atenção por parte dos colegas jornalistas da imprensa”, disse Paiva Rebouças. Ainda segundo ele, o clipping digital mostra que 42,5% das citações da UFRN na imprensa, até o mês de maio do ano corrente, são por causa das publicações de matérias de ciência. “No mês de maio, por exemplo, 52% das citações da imprensa foram baseadas em notícias produzidas pela Agecom sobre ciência”, reforça.

Na visão do diretor, comemorar o aniversário da Agência apresentando esses números é importante porque demonstra a preocupação da equipe em como a Universidade está se comunicando com o público em geral. O estudante do 6º período de Jornalismo e bolsista da Agecom, Jefferson Tafarel, um dos responsáveis pelo levantamento estatístico do clipping digital, acredita que, apesar de a pandemia ter tido um peso considerável para todo mundo, a UFRN tanto tem conseguido mostrar cada vez mais potencial para entregar à sociedade os benefícios que alcança com as pesquisas científicas, como também tem obtido êxito em mostrar a eficiência, em relação à ciência. “Tem se tornado comum ver matérias jornalísticas colocando a universidade como protagonista na produção científica do estado”, disse.

Hellen Almeida, jornalista e diretora substituta, completa 10 anos de atuação na Agecom no próximo ano. Ela conhece bem a história dessa unidade a quem se diz grata pela oportunidade de aprendizado, tanto no trabalho quanto na vida. “Atuando como elo entre a UFRN e sociedade, é essencial a Agecom investir em divulgação científica. Mostrar a população o que é estudado, pesquisado e desenvolvido na UFRN faz parte de nossa missão”, ressalta.

Foto: Anastácia Vaz

O professor Sebastião Faustino, chefe da Superintendência de Comunicação (Comunica), unidade que abriga todas as unidades de comunicação da UFRN, inclusive a Agecom, lembrou que é papel da Agência divulgar as ações da universidade, desde a área administrativa, até a produção dos professores e alunos. “É ainda sua missão levar conhecimentos para os públicos interno e externo, como também a divulgação e popularização da ciência. Então, que ela siga inovando sempre para que se aproxime cada vez mais de nossa sociedade”, reforçou o superintendente que tem trabalhado junto com a Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq) para que todo pesquisador tenha o cuidado de divulgar seus projetos de pesquisa também nos veículos institucionais de comunicação.

Um trabalho a várias mãos

A popularização da ciência não é uma tarefa simples. Requer dedicação do jornalista, mas também parceria com os pesquisadores. Essa simbiose entre jornalismo e ciência é o que assegura a construção de textos acessíveis e comunicativos. Na Agecom, diversos jornalistas, bolsistas e parceiros interagem na busca pela melhor informação, unindo a necessidade de informar sobre as ações da UFRN com a revelação de acontecimentos significativos e proveitosos socialmente.

Foto: Ana Lourdes Bal

Vilma Torres, jornalista da Agecom há cinco anos, vê um paradoxo no trabalho com o jornalismo científico que pode ser apaixonante, mas também frustrante. “Por um lado, me encanta a possibilidade de acompanhar pesquisas, destacar descobertas e compartilhar conhecimentos que podem efetivamente fazer a diferença no nosso dia a dia. Por outro, é angustiante ver que essa mesma produção – profissional, apurada e revisada – pode acabar disputando espaço com uma narrativa fake. É triste saber que muitas pessoas não sabem diferenciar uma publicação falsa de uma verdadeira e que essas duvidam dos veículos que produzem as informações. São tempos difíceis tanto para a imprensa quanto para a ciência”, pondera.

O jornalista Marcos Neves, também da Agecom, reforça a fala de Vilma e diz que em um momento no qual a universidade e a educação como um todo têm sido diariamente atacadas, fazer parte de uma iniciativa que busca mostrar às pessoas como a ciência toca as suas vidas é uma forma de resistência. “Mas, para além disso, é também muito bom escrever sobre algo no qual se acredita, então, nesse sentido, é um trabalho bastante prazeroso”, acrescenta.

Para Wilson Galvão, assessor da Agência de Inovação da UFRN, o “movimento” de comunicação científica é vital para que as pessoas percebam a UFRN atuando em benefício delas, ou seja, como instituição socialmente referenciada. “Quando nos debruçamos em um tema que será objeto de um texto de divulgação científica no âmbito jornalístico, procuramos, aqui na Agência de Inovação, utilizarmos a popularização da ciência enquanto estratégia de construção da imagem da UFRN para a sociedade, bem como, ferramenta para propagação das descobertas científicas, isso porque partimos da situação de que a Universidade é local de construção do conhecimento”, reforça.

Foto: Anastácia Vaz

O interesse do cientista pelo tema é também uma preocupação da Agecom. Neste ano, a equipe aprovou um projeto de extensão que visa, entre outras ações, integrar os estudantes na escrita de reportagens de ciência, mas também fortalecer a cultura da popularização científica junto à comunicação, envolvendo principalmente os pesquisadores. A ideia foi abraçada por muita gente e tem contribuído significativamente para os resultados mostrados anteriormente.

Uma das cientistas mais recentes a se aproximar dessa ideia foi a arqueóloga Aline Ghilardi, do Departamento de Geologia da UFRN, e uma das popularizadoras de ciência mais concorridas do país, graças a seu projeto “Colecionadores de ossos”. Para ela, é de fundamental importância que a universidade esteja cada vez mais envolvida em atividades de popularização da Ciência, não apenas porque se tem a obrigação de fazê-lo, como retorno ao investimento realizado pela sociedade, mas porque falar sobre Ciência com a população pode melhorar sensivelmente a qualidade de vida das pessoas e também ajudar a direcionar nossas atitudes como instituição pública.

“Discutir temas científicos de forma acessível engaja a comunidade no diálogo e a torna parte do processo de construção do conhecimento. Ao mesmo tempo que se instrui e sensibiliza o público sobre questões importantes e aspectos fundamentais do seu entorno, informamo-nos sobre quais são as principais demandas da sociedade, que fundamentalmente merecem a nossa atenção. O diálogo e a informação trocados de forma acessível, em uma linguagem popular, geram cidadãos mais empáticos com as nossas atividades e, sobretudo, conscientes do seu papel na sociedade e capazes de fazer melhores escolhas. Entre essas escolhas, por exemplo, está a própria luta por investimento em educação de qualidade e Ciência e Tecnologia, que é o que garante e garantirá o futuro das universidades”, disse Aline.

Para o vice-diretor do Centro de Biociências, Expedito Silva do Nascimento Júnior, a  percepção geral de toda a comunidade acadêmica do CB é de que as ações científicas desenvolvidas no âmbito da unidade têm ganhado maior espaço nas mídias em geral. “A direção do CB atribui tal mudança em virtude de um conjunto de novas estratégias realizadas pela Agência de Comunicação da UFRN junto aos departamentos e cursos de pós-graduação do Centro de Biociências, tais como reuniões da Agecom com chefes e coordenadores de curso; diálogo rápido com a agência para divulgação dos principais achados científicos no CB, entre outras. Muito ainda temos para evoluir no contexto da divulgação científica em geral, no entanto temos a sensação de estarmos no caminho certo”, reforçou.

O astrofísico José Dias do Nascimento Jr., do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE/ UFRN) está entre os cientistas que mais contribuem para a popularização da ciência junto a Agecom. Com grande produção e preocupado com a visibilidade da ciência, ele reconhece o trabalho da Comunica em ampliar a visibilidade da pesquisa. “A popularização das ciências no estado do Rio Grande do Norte passou de praticamente inexistente para patamares de muita qualidade  e boa frequência. Ganhou muito em qualidade e isso é, em parte, resultado do trabalho sério feito pela AGECOM-UFRN ao longo dos anos. Nós, cientistas, sentimos isso no retorno dado pelo público”, acrescentou.

Já para o professor Ricardo Ojima, do Departamento de Demografia, as atividades da Agecom da UFRN são fundamentais no caminho para a popularização da ciência, colocando o conhecimento para além dos muros da universidade. “Nos dias de hoje, mais do que nunca, a ciência é cobrada pela sociedade como um agente social fundamental para as transformações necessárias. Então é fundamental que esse trabalho da Agecom tenha sido ampliado e que coloque todo o debate das pesquisas que acontecem dentro de um patamar de nível nacional”. Ele acrescenta ainda que a parceria com a agência da UFRN fez com que o Programa de Pós-Graduação em Demografia ganhasse maior visibilidade, principalmente na divulgação científica, já que é uma área pouco conhecida no Brasil.

A Pesquisa da UFRN

A preocupação em popularizar a ciência na UFRN tem bases solidificadas. Segundo a Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq), a Universidade tem cerca de 1.894 projetos de pesquisa em execução, dos quais aproximadamente 250 estão em fase de avaliação em editais de fomento. Dos que estão em execução, cerca de 886 são financiados com bolsas de iniciação científica e tecnológica e cerca de 277 possuem financiamentos diversos junto a agências de fomento à pesquisa da própria UFRN ou de outras instituições públicas ou privadas.

Foto: Anastácia Vaz

A Propesq incentiva a formação de recursos humanos para a pesquisa por meio do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica, concedendo cerca de 1.300 bolsas a estudantes da UFRN, em montante de R$ 2.4 milhões, oriundos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de R$ 3.796.800,00 oriundos de recursos da própria Universidade.

Os incentivos à pesquisa por meio de auxílios a projetos de pesquisa concedidos pela Pró-Reitoria em 2020 vão totalizar R$ 1.278.468,49, dos quais R$ 878.468,49 serão oriundos de recursos do Fundo de Pesquisa próprio, R$ 200 mil da Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PPG) e R$ 200 mil concedidos pela Fundação Norte-rio-grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec).

Segundo a pró-reitora, Sibele Pergher, os auxílios financeiros concedidos pela Propesq visam estimular a formação de redes de pesquisa, aumentar a produtividade científica dos pesquisadores da instituição, estimular novos pesquisadores e fomentar pesquisa em temáticas específicas de interesse da instituição, como o desenvolvimento de pesquisas na área de tecnologia assistiva.

Além do investimento direto, a Pró-Reitoria atua na elaboração e submissão de propostas institucionais a editais de fomento, como o Programa de Mestrado e Doutorado Acadêmico para Inovação (MAI/DAI) do CNPq, em que a proposta submetida foi contemplada com recursos financeiros no valor de R$ 848.448,00.

Esses números mostram o quanto é importante divulgar o que está sendo produzido pelos cientistas da UFRN. Em relação ao trabalho da Agecom, Sibele disse que o setor possui uma visão de divulgar o que é feito para a sociedade e isso é muito importante. “Especificamente com a pesquisa, fomos procurados por Paiva para participar de um projeto de divulgação científica que achamos de excelente a ideia. E, recentemente, pelo próprio Faustino para começarmos a seguir projetos de pesquisa de perto, para cobrir todas as etapas dos projetos para divulgação científica. Então, estamos muito satisfeitos com essas ações que competem mais a nós e a divulgação da pesquisa na UFRN. Acho que é um setor muito importante e parabenizo pelos anos cumpridos (a maior idade) e desejo muito sucesso nos que estão por vir”, disse a pró-reitora.

Projeto Sala de Ciência

Vinculado ao Instituto do Cérebro (ICe) da UFRN, o projeto de extensão Sala de Ciência (SCI/UFRN) é desenvolvido no âmbito da Agência de Comunicação com apoio de grande parte dos servidores, bolsistas e estagiários. Com uma equipe própria de cinco estudantes colaboradores, o projeto desenvolve a popularização da ciência em várias frentes.

A principal delas é a produção de texto, mas também sua catalogação e disseminação em suas redes sociais próprias (@sciufrn). Também desenvolve a produção de duas séries de podcasts sobre divulgação científica e doenças, está preparando um site que servirá de repositório para as notícias de ciência da UFRN e uma revista eletrônica reunindo conteúdo produzido ao longo do ano.

Desde o início da pandemia da covid-19 no Brasil, com afastamento da comunidade acadêmica para trabalho remoto, o SCI assumiu a atualização do hotsite coronavírus, repositório criado para reunir toda a produção realizada pela Comunica sobre as ações da UFRN contra a covid-19.

Uma das ações de maior visibilidade do projeto foi o 1° Ciclo de Debates sobre Jornalismo Científico e Popularização da Ciência, realizado no mês de junho em parceria com o Instituto Internacional de Física (IIP). Foram cinco encontros para tratar do tema que renderam mais de 2.500 visualizações até o momento.

Participaram do ciclo os jornalistas e pesquisadores Fabíola Oliveira (Livro: Jornalismo Científico), Herton Escobar (Ciência Usp), Reinaldo José Lopes (Folha de São Paulo), Daniela Klebis (SBPC) e Marta Avancini (Jeduca). Antes disso, em 15 de maio, o Sala de Ciência mediou uma discussão sobre Jornalismo Científico com a diretora da Agência Bori, Sabine Righetti, dentro do projeto Seminários em Neurociências do ICe/UFRN que rendeu outras 641 visualizações.

Foto: Cícero Oliveira

Uma parte importante no trabalho do SCI é o envolvimento de estudantes de Comunicação na popularização da ciência, seja aprendendo ou produzindo matérias sobre o tema, seja criando interesse pela leitura e escrita acadêmica. Para Marcelha Pereira, bolsista do projeto, é momento para ganhar conhecimento profissional na área que mais lhe interessa no jornalismo. “Conheci o jornalismo científico quando entrei na Agecom para meu estágio-obrigatório do curso de Jornalismo da UFRN. Lembro de não conhecer esse campo até escrever sobre uma pesquisa da área da Física para o Portal da UFRN. Acabei gostando muito e fui apresentada pelo diretor da Agecom, o Paiva, sobre como é possível falar sobre ciência na nossa profissão. Contribuir para a popularização da ciência produzida na nossa universidade se tornou tão gratificante para mim que hoje participo da construção do Sala de Ciência, o tema do meu Trabalho de Conclusão será em Jornalismo Científico e ainda fui uma dos 10 estudantes selecionados para participar da 1º Mentoria em Jornalismo Científico da RedeComCiência. Ainda estou no começo da minha trajetória, mas já me sinto feliz por ter me encontrado”, conta Marcelha.

Além do ICe e da Comunica, o Sala de Ciência tem apoio da Secretaria de Relações Internacionais (SRI), Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq), Departamento de Comunicação Social (Decom), Instituto de Medicina Tropical (IMT), Museu Câmara Cascudo (MCC), Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE), Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde e Fundação de Apoio à Pesquisa do RN (Fapern).

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *