Por que Kwid e Mobi devem ser os últimos carros baratos do Brasil

Foto: Garagem360

Há seis anos, Fiat Mobi e Renault Kwid disputam o título de carro mais barato do país. Durante todo esse tempo, nenhum concorrente com as mesmas características – de subcompacto de entrada – chegou ao mercado brasileiro, e não há perspectiva de mudança nesse cenário. O caminho natural é que eles se consolidem como os últimos carros populares do país nos próximos anos.

Lançados entre 2016 e 2017 com preços na faixa de R$ 30 mil, os modelos custam hoje mais do que o dobro. As versões mais baratas saem por R$ 70 mil.

Eles chegaram com uma proposta de mobilidade prática, para atender os compradores os mais jovens ou serem o segundo veículo da família, mas – na situação econômica atual – passaram a ocupar, em muitos lares, a posição dos hatches e sedãs de entrada, que já partem de R$ 80 mil.

Apesar de parecerem caros para o poder de compra do brasileiro, é importante ter em mente que eles vêm de série com itens que eram opcionais décadas atrás, como ar-condicionado, travas elétricas e vidros elétricos nas portas dianteiras.

O consultor automotivo Cassio Pagliarini explica que uma junção de vários fatores contribuiu para o cenário atual. “Houve uma inflação de commodities – como aço, alumínio, vidro e plástico – muito grande e que, como são precificadas em dólar, que também aumentou, fez os efeitos se multiplicarem. Somente a variação dos custos já fez o preço dos carros subirem.”

A grande questão, explica Pagliarini, é que o mercado não sofreu apenas com a variação dos preços das matérias-primas. Se a questão fosse apenas essa, o cenário poderia se ajustar com a estabilização da crise. Ele explica que as exigências legais do veículo estão aumentando cada vez mais.

“Quando os airbags e os freios ABS passaram a ser obrigatórios, por exemplo, alguns carros deixaram de ser produzidos, como o antigo Uno. O mesmo acontece com as exigências atuais. Temos determinações do Proconve, em relação a emissões, e medidas de segurança como controle de estabilidade.

Colocar equipamentos caros em veículos baratos dá um forte impacto nos preços, não à toa os carros de entrada do mercado brasileiro partem de R$ 70 mil, o que era impensável três anos atrás”, opina o consultor.

Não vale a pena fazer carros “baratos”

Além dos fatores apontados, Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards, registra outro detalhe importante: a estratégia das montadoras. Ele explica que o modelo da indústria automotiva era voltado para o volume. Ou seja, lucra-se pouco nos carros mais baratos para compensar na quantidade de vendas. A grande questão é que a pandemia acabou com o sucesso desse modelo de negócio.

“A falta de componentes para a construção dos carros piorou a situação, já que as montadoras investiram em uma produção grande de veículos e não conseguiram finalizá-los. Como a indústria estava sem volume de carros para vender e rentabilizar o negócio, precisava apostar em veículos com maior valor agregado, que são mais rentáveis. Isso deixa os carros de populares de lado no portfólio de vendas. A proposta agora é em maior valor agregado e maior margem de rentabilidade.”

Nesse contexto, a crise econômica que o país enfrenta só contribui para que não seja interessante colocar carros de entrada à venda, pois pode não haver quem compre.

“Mesmo que a situação dos componentes se equilibre, o cenário não mudará de forma tão simples. Estamos vivendo um empobrecimento do brasileiro médio. A relação entre o aumento do salário médio do brasileiro e o do valor do carro é muito discrepante. O consumidor está cada vez mais distante do sonho de comprar um automóvel”, pontua Bacellar.

Do Portal UOL

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