Seridó oferece “mergulho” na terra e promove belo Nordeste além do litoral

Cidade das Pedras, no Geoparque Seridó, em Cerro Corá, no Rio Grande do Norte Imagem: Divulgação/visiteriograndedonorte.com.br/

Para o condutor de turismo José Evangelista de Arruda Dantas, 34, sua carreira no turismo começou ao chutar uma pedra. Para todo o entorno, o início daquilo tudo foi há milhares de anos.

Localizado no sertão do Rio Grande do Norte, a cerca de 150 quilômetros de Natal, o Seridó é o Nordeste que vai além das famosas faixas de areia do litoral potiguar, em um roteiro de trilhas, cânions, sítios arqueológicos e até mina subterrânea.

Maior produtora do mineral scheelita no Brasil, a região leva o turista para dentro da terra. O destaque por ali é o Geoparque Seridó, uma área de 2.800 km² que guarda um patrimônio geológico em 21 geossítios (sítio geológico com formações de importante valor científico), ao longo de seis cidades do interior do estado.

Em abril, o local deve ser incluído na seleta lista de 169 geoparques da UNESCO, em 44 países. Quando o título for confirmado, o Seridó será mais um atrativo do gênero no Brasil, juntamente com os geoparques Araripe (CE) e Cânions do Sul (RS).

“Muitas vezes, a geologia no Brasil é vista apenas como um amontoado de pedras formadas há muito tempo. Mas no Seridó, trata-se de um desenvolvimento sustentável do território, incluindo conservação, educação e turismo”, explica Marcos Nascimento, geólogo e professor do Departamento de Geologia da UFRN.

Pedra no caminho

Foi no Sítio Arqueológico Xiquexique I que o condutor José Evangelista, literalmente, deu o ponta a pé na carreira turística (e artística).

Após concluir um curso de condutor, em 2002, Evangelista começou a se interessar não só pelo potencial arqueológico da região, mas também pela conservação dos painéis rupestres desse atrativo em Carnaúba dos Dantas, cidade a 250 quilômetros de Natal, aproximadamente.

“Eu estava fiscalizando o local por conta própria e um dia chutei uma pedrinha de quartzito. Pensei então em fazer pinturas em rochas para evitar que o pessoal levasse as figuras originais”, explica à reportagem.

Evangelista começou a criar réplicas daquelas pinturas rupestres de cores vivas e com cerca de dez mil anos de idade, conhecidas pelas referências a temas como caça, dança e sexo, em rochas de cerca de 640 milhões de anos.

Trabalhos do artista José Evangelista de Arruda Dantas, em Carnaúba dos Dantas Imagem: Arquivo Pessoal

Com peças de até 1,10 metro, Evangelista conta que suas peças já foram vendidas para turistas da Colômbia, Estados Unidos e França.

“Uma vez, um colombiano teve até problemas para embarcar no aeroporto porque acharam que era uma peça original”, lembra o artista. Assim como ele explica, o trabalho é feito com caneta esferográfica vermelha, pois o tom se aproxima ao do óxido de ferro das pinturas originais.

Para isso, utiliza o quartzito de uma empresa que fez utiliza o quartzito de uma empresa que fez uma adutora de Parelhas a Carnaúba dos Dantas.

“Pedra do Nariz”, em Cerro Corá (RN) – Eduardo Vessoni

Sertão adentro

A 150 quilômetros de Natal, o município de Cerro Corá, outro destino do Seridó, é uma espécie de sertão com ar-condicionado, devido ao clima serrano e às temperaturas que podem chegar a 18 °C no inverno.

É ali que fica o geossítio Serra Verde, conhecido pelas rochas graníticas esculpidas pela chuva e que escondem as pinturas rupestres da Toca de Zé Braz.

Geossítio Serra Verde, em Cerro Corá Imagem: Eduardo Vessoni

“Esse é o lugar para usar a imaginação”, avisa Marcos Nascimento, por conta da diversidade de geoformas que lembram caju, cachorro, baleia e até um nariz gigante.

É tanto talento do tempo da pedra que a cidade tem até um hotel onde as paredes são pedras, como os chalés da Pousada Colina dos Flamboyants feitos com madeiras de algarroba e quartos incrustados em pedras granito.

A cerca de 40 quiolômetros dali, em Currais Novos, fica outro destaque do destino.

O Cânion dos Apertados, eleito uma das Sete Maravilhas do estado em concurso feito pela imprensa potiguar, é um corredor natural com paredões de até 40 metros de altura.

Formado pela erosão do Rio Picuí, que modela as rochas da Serra da Timbaúba, o local tem trilhas sertão adentro e bolsões d’água usados pelos visitantes como piscinas naturais.

Para ir mais fundo na geologia local, a 10 quilômetros do centro de Currais Novos, o município é endereço também da Mina Brejuí, parque temático equipado com museu sobre extração de minerais, Mirante das Dunas, formadas pelo acúmulo de rejeito da mina, e visita a túneis e galerias, em uma trilha subterrânea de 300 metros de extensão.

E o sertão vai virar mar…

“O Geoparque Seridó é a interiorização efetiva do turismo no Rio Grande do Norte”, avalia Marcos Nascimento, que é também coordenador científico do Geoparque Seridó.

“Falta encarar ainda o geoturismo como um novo nicho de turismo e o Brasil precisa entender sua particularidade. Se analisarmos todos os destinos turísticos do país, cerca de 90% são geológicos”, explica Marcos, quem acredita que o turismo na região não é um potencial, é uma realidade.

“O Seridó tem um cenário de beleza surreal. Os açudes cheios de água e a Caatinga verde quebram todos os estereótipos sobre o Nordeste”, explica Gustavo Fernandez, analista de comunicação e marketing da agência.

Entre arbustos e árvores baixas da Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, o turismo por ali é no ritmo deles. Do sertanejo e da natureza.

Fonte: UOL

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