‘TRISTEZA FOI EMBORA, AGORA É SÓ ALEGRIA’: IDOSOS SE CASAM COM MAIS DE 70 ANOS E CELEBRAM A VIDA

Por Marina Pereira, G1 Grande Minas

Dona Maria, de 74 anos, e seu Arlindo, de 77, se casaram neste mês em Montes Claros — Foto: Arquivo pessoal

“Era triste viver sozinha, mas a tristeza que eu carregava foi embora e entrou só alegria. Era isso que faltava na minha vida, Graças a Deus agora eu tenho o meu velhinho”, é assim que a aposentada Maria Gonçalves de Andrade, recém-casada aos 74 anos, define a experiência de viver um grande amor. Ela e seu Arlindo, de 77 anos, se casaram no início do mês em Montes Claros, no Norte de Minas.

Dona Maria vivia sozinha há 30 anos após se separar do primeiro marido e seu Arlindo ficou viúvo há mais de uma década. Os dois moravam em bairros diferentes e se encontraram quando a idosa foi passar uma temporada na casa da neta, que fica no mesmo bairro onde o idoso reside. Eles começaram a namorar no mês de maio e, em três meses, decidiram oficializar a união. Dona Maria e seu Arlindo compartilhavam da mesma solidão e desejavam ter alguém para dividir os momentos da vida.

“Eu pedia a Deus todos os dias para me mandar uma companheira, viver sozinho não é bom. Depois que arranjei ela, eu alegrei e estou até com mais saúde” [Sic].

Após o casamento, a aposentada deixou a casa onde vivia, no Bairro Santos Reis, e se mudou para a residência do marido, no Bairro Planalto I. Na bagagem, ela levou apenas os objetos pessoais, um conjunto de tigelas, um jogo de taças e algumas panelas.

“Deixei tudo pra trás, não liguei pra nada. Agora, só quero viver com ele em paz até o dia que Deus quiser”.

Do primeiro encontro ao casamento

A responsável pela união do casal foi a neta de dona Maria, a estudante de odontologia Stephane Yara Andrade Marinho. A jovem tinha muita vontade que a avó encontrasse alguém e foi ela quem soube que o seu Arlindo também procurava por uma companhia.

“Eu tinha vontade porque ela vivia muito sozinha, mas não ficava procurando. Até que um dia eu saí para vender uma rifa da faculdade e em uma conversa aleatória, uma conhecida disse que tinha esse senhor que morava no bairro estava solteiro. Eu já o conhecia de vista e falei que daria certinho para minha avó. Ela estava passando uns dias comigo e eu cheguei em casa e contei sobre essa pessoa”.

No dia seguinte, dona Maria levantou cedinho disposta a encontrar o idoso. Para não chamar a atenção da neta, ela disse que iria fazer caminhada.

“Na treita, eu inventei que ia fazer caminhada, mas já era na intenção de procurá-lo. Minha neta falou o nome dele e disse que morava perto de uma papelaria. Eu saí andando e encontrei a casa após pedir informação para um vendedor”.

Ela tocou a campainha e quando seu Arlindo saiu no portão, os dois descobriram que já tinham se visto uma vez há cerca de dois anos. Na época, dona Maria, que é técnica de enfermagem, tinha aferido a pressão dele.

“Ele saiu no portão, ficou me olhando e logo perguntou se eu estava boa e falou que me conhecia. Eu não lembrava de onde e ele disse que era da casa de Antônio [um membro da minha igreja]. Há dois anos, eu fui na casa do irmão Antônio para aferir a pressão porque ele tinha passado por uma cirurgia e o Arlindo está lá. Ele também pediu para olhar a pressão e eu o ajudei sem nenhum interesse”.

Depois de descobrir de onde eles se conheciam, seu Arlindo convidou dona Maria para entrar e os dois tomaram o primeiro cafezinho juntos.

“Eu não comentei que tinha ido lá porque a minha neta havia falado. Ele ficou com uma conversinha manhosa e disse que estava procurando uma companheira e perguntou se eu também estava sozinha”.

A partir deste dia, eles não se desgrudaram mais. Os cafés ficaram mais constantes, passaram a almoçar juntos e a frequentar a igreja até que iniciaram um namoro. Pouco tempo depois, decidiram que queriam casar.

Família preparou uma jantar surpresa no dia do casamento — Foto: Arquivo pessoal

 

Ela quis fazer tudo certinho, casou no cartório e depois teve a benção na igreja. Fui a primeira a apoiar, corri atrás da documentação e fui ao cartório para evitar que eles saíssem por conta da pandemia”, conta Stephane.

“Eles são um exemplo para todos nós porque às vezes recuamos muito em sermos felizes e não agarramos as oportunidades que a vida nos dá. As pessoas mais velhas não têm isso porque sabem que não têm tempo a perder”.

No dia do casamento, a família de dona Maria organizou um jantar surpresa com direito a ornamentação, bolo e docinhos. A filha mais velha, Ariete Andrade Costa, assumiu o comando da cozinha e diz que fez tudo com muito carinho.

“Minha filha fez a decoração e eu preparei o jantarzinho, foi tudo simples, mas feito com muito amor. Falei com minha mãe que nunca é tarde para ser feliz, foi Deus que colocou um no caminho do outro e estamos muito felizes”.

Mudança de vida

“Eu ficava triste, às vezes passava a maior parte do tempo deitada e nem tinha vontade de fazer comida. Ficava desanimada por viver sozinha”, era assim a rotina da aposentada antes de conhecer seu Arlindo.

Dona Maria foi casada por 22 anos e se separou porque era vítima de violência doméstica. Há 30 anos, ela não tinha um novo relacionamento.

“Casei com 19 anos e tive seis filhos, decidi me separar porque ele me agredia e nós sofríamos muito. Lutei sozinha para cuidar dos meus filhos e até tinha vontade de casar, mas com eles pequenos em casa, eu tinha medo de num dar certo e de viver a mesma vida que tinha com o pai deles”.

“É a primeira vez que vivo um amor tranquilo. Nós nos entendemos muito bem, brincamos e damos risada de tudo. Ele é muito carinhoso e toda hora está me abraçando” (risos).

Em casa, os dois dividem as tarefas domésticas e dona Maria não só encontrou o ânimo para cozinhar, como também inspiração para recitar. Enquanto faziam o almoço dessa terça-feira (9), ela chamou atenção do marido com o seguinte verso: “Dinheiro pra despesa, cozinha afiada, marido bonzinho eu não quero mais nada”.

“Eu falei o poema e ele sorriu e me abraçou. Vivemos muito felizes, é bom ter alguém para conversar e tudo nós compartilhamos. Coração de idoso é igual de adolescente”.

“Eu e ela estamos ajudando um ao outro viver. É um zelando pelo outro”, disse seu Arlindo sobre a alegria de ter uma companheira.

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