‘Viajando o Sertão’: entrevista com Honório de Medeiros, André Felipe Pignataro e Gustavo Sobral sobre o projeto

Fonte: IHGRN

Honório de Medeiros, André Felipe Pignataro e Gustavo Sobral embarcam, nos próximos dias, em uma aventura ao passado em uma viagem pelo presente.

Juntos, em comitiva do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, vão ao sertão potiguar, recuperar os passos da primeira comitiva oficial, a do presidente da Província, Pedro Leão Veloso, realizada em 1861.

Outra só aconteceria nos anos 1930, com o interventor Mário Câmara e Luís da Câmara Cascudo. Agora, eles pretendem realizar a viagem do século XXI, em comitiva oficial do Instituto Histórico. Confira os principais trechos da entrevista com os viajantes:

Como surgiu a ideia de refazer essa viagem?

Gustavo Sobral: A ideia da viagem surgiu lendo. Ou melhor, relendo. Foi ao reler “Viajando o Sertão” de Cascudo, resultado de sua viagem na companhia do interventor Mário Câmara, que reparei em algo que tinha visto, mas que não tinha me dado conta. Manoel Rodrigues de Melo, na nota de apresentação, menciona a viagem de Leão Veloso. Então, deu-se aquele estalo, e corri para contar a André Felipe Pignataro e a Honório de Medeiros. Foi um passo para inventarmos de seguir os passos daquela comitiva.

E que viagem foi essa?

Gustavo Sobral: Começamos então um trabalho detetivesco de recuperar a viagem de 1861. Saímos à cata de referências e fomos esbarrar no relatório do presidente da Província, pois eram eles obrigados, por lei e pelo cargo, a escreverem relatórios de suas atividades à Assembleia Provincial. Mas, embora completo, e sabemos que ali tinha os olhos de quem viu, não havia menção textual direta à viagem; também fomos aos jornais, e estava lá a notícia da viagem e algo mais, da gente que foi junto e encontramos um certo funcionário chamado Ferreira Nobre, autor da considerada primeira história escrita do Rio Grande do Norte. E lá, também, nenhuma menção, embora acreditamos, que também fruto de quem foi e viu. E agora? Bem, aí fomos nos deparar com o rico histórico da viagem nas reportagens em série de Francisco Othilio Álvares da Silva para o jornal O Recreio. Foi um achado.

Poderia nos contar o motivo dessa viagem e por onde eles passaram?

André Felipe Pignataro: Leão Veloso assumiu a presidência da Província em maio de 1861. Em julho, com apenas dois meses de governo, já empreendeu em conhecer o interior do Rio Grande do Norte, com a intenção de, assim acreditamos, poder fazer uma melhor administração. Ele e sua comitiva cortaram os sertões potiguares e viram de perto os problemas da nossa gente e suas necessidades mais prementes. Dessa viagem, adveio o relatório de 1862, tido por Câmara Cascudo, em 1942, como o mais completo já apresentado. Aparentemente, essa era uma característica de Leão Veloso, que, um ano antes, em 1860, fez algo parecido na Província do Espírito Santo, conhecendo-a e preparando-a para a visita de D. Pedro II. A comitiva de Leão Veloso passou por diversas cidades e fazendas, demorando-se mais em Macau, Assu, Acari, Caicó, Martins, Pau dos Ferros, Portalegre, Apodi e Mossoró, até chegarem novamente em Macau, de onde retornaram para Natal no mesmo navio a vapor que iniciaram a viagem.

E por que a invenção de refazer os passos dessa comitiva?

André Felipe Pignataro: Esse projeto nasceu em 2019, quando Gustavo Sobral compartilhou comigo e Honório de Medeiros as recordações de viagem que Othilio escreveu n’O Recreio. Não me lembro quem deu a ideia da viagem, mas ela surgiu numa reunião que fizemos, e todos nós, prontamente, concordamos que deveríamos refazer os passos da comitiva presidencial de 1861. Nosso objetivo era realizar o projeto em 2020, mas tivemos que adiá-lo por causa da pandemia de covid-19. Durante esse tempo, o assunto nunca deixou de ser discutido. Ou seja, é um sonho coletivo que, finalmente, iremos vivenciar.

Qual a importância, hoje, de uma viagem ao sertão?

Honório de Medeiros: Na perspectiva da viagem de Leão Veloso, e na medida do possível, fazer uma comparação, mesmo que imaginária, entre o que foi descrito por Othilio e o que encontramos.

O que esperam encontrar?

Honório de Medeiros: Os vestígios do passado. A sensação do compartilhamento imaginário. A alegria do ineditismo. O prazer do conhecimento.

Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), mais antiga instituição cultural do Estado, fundada em 1902, abriga biblioteca, arquivo e museu.

Honório de Medeiros é professor de Filosofia do Direito e Direito Constitucional, ensaísta, escritor, autor de Poder Político e Direito, Massilon e História de Cangaceiros e Coronéis.

André Felipe Pignataro Furtado de Mendonça e Menezes é advogado e pesquisador, diretor de pesquisa do IHGRN.

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve e publica está no site pessoal gustavosobral.com.br.

O Instituto – 121 anos

Fundado em 1902, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte completou 121 anos em 2023. É a mais antiga instituição cultural potiguar. Abriga a biblioteca, o arquivo e o museu mais longevos em atividade do Estado. Promove exposições, palestras e atividades voltadas à manutenção e divulgação da cultura, história e geografia norte-rio-grandense, e publica a sua revista desde 1903, sendo a mais antiga em circulação no Rio Grande do Norte.

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