Clube Laguna de Tibau do Sul (RN): time de futebol renuncia à carne pelo veganismo e viraliza

São 11h50 quando o almoço fica pronto e os jogadores partem para se servir. O cardápio do dia dos boleiros inclui quibe de forno com soja como proteína principal, cebola caramelizada, ricota de tofu, arroz com lentilha e saladinha, acompanhados de suco.

No refeitório do clube, o zagueiro Márcio Júnior elogia: ‘Ô tia, tá bom isso aí’ Imagem: Valcidney Soares/UOL

Mais de 30 pessoas, entre jogadores e membros da comissão técnica, espalham-se pela área externa da casa. A atenção dos convivas se divide entre os pratos verdinhos e um programa esportivo que passa na TV. “Ô tia, tá bom isso aí”, elogia o zagueiro Márcio Júnior. “Vou virar vegano já”, diz ele na mesa.

O banquete inusual para atletas profissionais de futebol é rotina para os jogadores do Clube Laguna, primeiro clube vegano das Américas, criado em maio. Dentro do alojamento, nada de carne para comer. A ideia é também evitar ao máximo qualquer coisa de origem animal.

Os produtos de limpeza usados na casa que faz às vezes de alojamento, por exemplo, são veganos. As camisas do time, ao contrário de lã, são produzidas com garrafas PET recicladas. A única exceção fica para a bola.

“Muitas vezes elas usam cola derivada de animal, e é a bola da competição, não é nossa bola. Se a gente pudesse escolher, não seria essa aí”, afirma Rafael Eschiavi, um dos três fundadores do time, um clube-empresa criado como SAF (Sociedade Anônima do Futebol) que se propõe a levar a gestão empresarial para as quatro linhas. “Tem coisas que ainda não são totalmente veganas, mas estamos a uns 90%”.

‘Eu não gostava de berinjela, cara’

Jean Mangabeira, 25, é um volante natural de Anápolis (GO), com passagens por clubes como o Criciúma, onde jogou a Série B do Brasileirão, e até pela Europa, onde integrou o plantel do MFK Karviná, da República Tcheca. Na cozinha da nova equipe, diz que se surpreendeu com a berinjela.

“Eu não gostava de berinjela, cara. E fizeram uma berinjela como se fosse uma quiche folheada, eu gostei bastante”, afirma. Mangabeira conta que ele e a mulher já tinham vontade de conhecer melhor a alimentação sem origem animal. E que, sendo jogador, também faz o que for preciso para avançar na carreira.

“Somos atletas profissionais, a gente quer jogar em alto nível. Se for necessário virar vegano para atingir um nível maior, assim será”, veste a camisa. O lateral-esquerdo Murilo Santos, 21, teve passagens pela base do Grêmio, em Porto Alegre, e pelo Fluminense, na capital carioca.

De acordo com o atleta, o hábito da alimentação com carne vinha desde a infância. “Quando fiquei , a gente quer jogar em alto nível. Se for necessário virar vegano para atingir um nível maior, assim será”, veste a camisa.

O lateral-esquerdo Murilo Santos, 21, teve passagens pela base do Grêmio, em Porto Alegre, e pelo Fluminense, na capital carioca. De acordo com o atleta, o hábito da alimentação com carne vinha desde a infância. “Quando fiquei sabendo que era um clube vegano e que essa seria a nossa alimentação, me assustou no começo. Mas, chegando aqui, vi que é parecido, o sabor da comida é o mesmo, só muda o fato de que não tem carne”, afirma.

De bandeja: alimentação saudável para jogar em alto nível Imagem: Mateus Barros/Divulgação

Ao ser perguntado se acontecem “fugidinhas” dentro das instalações da equipe para comer carne, Murilo ri. “Dá, mas tem que manter o foco aqui dentro. Como a ideia do clube é essa, a gente tem que manter aqui e segui-la”.

Valores do veganismo

A fome dos jogadores e a vontade de repetir o prato eram justificadas pela rotina do dia. Logo cedo eles haviam se levantado para comer tapioca com pasta de grão de bico e pudim de chia com leite de coco antes de entrar no campo às 7h50 para o treinamento do dia. O primeiro a cruzar o portão do estádio foi Gustavo Nabinger, 38, parceiro de Eschiavi e treinador do time.

“O cabeça pensante é o Gustavo. É o cara que passou por clubes, que jogou”, diz Rafael, que tem mais experiência como vendedor do que com a bola no pé. Segundo o técnico, o Laguna nasceu como um clube de futebol com a proposta de fazer algo diferente do que outros times fazem. A equipe está sediada em Tibau do Sul (RN), cidade famosa pela Praia de Pipa.

No CT, os atletas vestem a camisa do veganismo; em casa, nem tanto Imagem: Valcidney Soares/UOL

Carregando uma caixa de papelão repleta de bolas, Gustavo vai até a lateral do campo e começa a preparação para o treino de logo mais. Junto com ele, entram os atuais 25 jogadores do plantel do Laguna – seis ainda por chegar -, mais os membros da comissão técnica. Os futebolistas já chegam com o uniforme, faltando apenas calçar as chuteiras. Aos poucos, colocam o GPS – um aparelho para aferir os batimentos cardíacos -, preparam as garrafas de água e deixam os sprays anestésicos à volta.

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Comentário (1)

  • Anônimo Responder

    Eu que não torço por um time desse…

    19 de setembro de 2022 at 17:38

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