(TBF) Cláudia Magalhães: uma estrela no teatro potiguar

João Marcelino e Cláudia Magalhães

 

Por ALEX GURGEL*

Natal é o berço do dramaturgo, ator e diretor teatral Jesiel Figueiredo, que revolucionou a forma de se fazer teatro na cidade, além de dedicar sua vida à luta pela formação de plateias e engrandecimento da arte.

Jesiel Figueiredo tem que ser reverenciado pela importante contribuição ao teatro potiguar, mas o show deve continuar.

Seguindo a tradição teatral na terra dos Reis Magos, Cláudia Magalhães vem se reafirmando em cena como talento nos palcos potiguares.

Atriz, dramaturga e produtora, Cláudia é uma mulher atuante na cena teatral norte-riograndense.

Nos últimos anos, ela se envolveu em grandes espetáculos ao ar-livre como os autos “Terra de Sant’Ana”, em Caicó e “Um Presente de Natal”, na capital, além de longas temporadas na Casa da Ribeira interpretando e cantando.

O deslumbramento pelos aplausos começou ainda adolescente, no grupo de teatro do Colégio Salesiano São José, quando Cláudia Magalhães interpretou uma onça que se apaixonou por um macaco no seu primeiro papel teatral.

“O pessoal viu que eu era muito comunicativa e me convidou para entrar nesse grupo”, ressaltou.

As cortinas do verdadeiro palco começaram a se abrir quando a jovem Cláudia conheceu o ator e diretor teatral carioca, Valério Fonseca, que viu a peça, gostou da “onça” e a convidou para montar duas peças: “O Mito do Andrógino”, que reunia uma coleção de textos nacionais; e depois, a peça “De Baco a Beth”, uma comédia que contava a história do teatro, e ainda “As Fúrias”, dirigido por César Amorim . Ambas com sucessos inesperados.

Cláudia trabalhou também com afinco, reunindo alguns bons atores para montar o espetáculo “As fúrias”, na Casa da Ribeira, tendo um grande sucesso desde a estreia. Numa das apresentações, ela disse que teve a honra do ator global Raul Cortez ter assistido à peça.

“Eu me tremia todinha só de pensar que Raul Cortez estava na plateia. Depois da peça, ele veio falar comigo e disse que gostou muito do meu trabalho”.

COM JOÃO MARCELINO

Claudia Magalhães e Henrique Fontes, na Casa da Ribeira

Nessa mesma época, Cláudia conheceu o diretor de teatro João Marcelino.

De acordo com ela, sua visão sobre o teatro mudou através de João Marcelino quando começou a encenar Macbeth, uma tragédia escrita por William Shakespeare, dirigida por Marcelino e produzida por Henrique Fontes. O espetáculo foi chamado “O Caminho das Folhas de Outono”, atraindo um grande público à Casa da Ribeira.

Cláudia confessa que é autodidata nas artes cênicas e faz teatro por puro prazer.

Seu grande sucesso como atriz foi a personagem “Tathiene Tábata Neurótica”, cujo espetáculo rendeu meses de casa cheia no final do ano passado na Casa da Ribeira, lugar onde a personagem foi batizada por João Marcelino numa adaptação do texto “A ida ao Teatro”.

“João é meu mestre, minha referência, meu norte. Com ele aprendi que sou extremamente feliz fazendo teatro”, completou.

A atriz define Tathiane como uma mulher à procura da felicidade e do seu grande amor. No palco, sozinha, Cláudia interpretou Tathiene e outros personagens. “Foi um monólogo muito divertido e eu emprestei algumas das minhas histórias pessoais de neuroses à Tathiene”.

O monólogo “Tathiene Tábata, Neurótica”, anos depois, teve a direção de João Júnior. E o último monólogo, “Tathiene Tábata, ligeiramente grávida”, teve direção de Henrique Fontes.

Por vários anos, Caicó apresentou o espetáculo “Terra de Sant’Ana”, escrito por Cláudia, que também interpretava a padroeira. Segundo ela, além de contar a história de Sant’Ana, o auto também revelava questões sociais para reflexão que afetam a humanidade como a miséria, a falta de solidariedade, a ganância, a violência, entre outros temas. “A gente precisa celebrar, mas a gente precisava falar no que está acontecendo e aproveito esses espetáculos para questionar”, disse.

CANTO QUE ENCANTA

Interpretando Maria Boa. Foto: Eduardo Alexandre

Como cantora, sua carreira começou quando trabalhou com a voz em musicais como “Bye, Bye Natal”, interpretando a lendária cafetina Maria Boa, “As Aventuras de Pedro Malasartes” e “A farsa do poder”, todos escritos por Racine Santos.

Sua performance chamou a atenção do cantor Isaque Galvão que a convidou para apresentar um show no Avesso Clube, como back-vocal. A partir desse encontro, Cláudia acompanhou Isaque em eventos como São João, no Polo Multicultural do Carnaval em Ponta Negra, em cima do trio elétrico no Carnatal, entre outros shows.

Com a cabeça cheia de projetos, Cláudia Magalhães escreveu o espetáculo “Esquina do Mundo” que revela histórias com os personagens do Grande Ponto e do Beco da Lama, redutos de boemias e tertúlias literárias.

“Quis homenagear grandes figuras que habitavam o lugar, como Lambretinha, Newton Navarro, Djalma Maranhão, Cascudo, Nazir. Também é uma grande homenagem ao Beco da Lama”, ressaltou. Danilo Guanais se apaixonou pelo texto e fez as canções da peça. A direção foi de João Marcelino.

Trazendo uma nova luz para o teatro potiguar, o talento de Cláudia desponta nos palcos e encanta as pessoas que assistem, como se fosse uma catarse de extrema intensidade, trazendo à tona os sentimentos de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.

Como pensava Jesiel Figueiredo, não basta apenas encantar a plateia, a missão de Cláudia Magalhães é reconstruir um conceito da nova dramaturgia e fazer história no teatro potiguar.

 

Fonte: Papo Cultura, publicado em 15/03/2017.

Fotógrafo e viajante
Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *