CHUVAS DE VERÃO

Ilustração

Por Minervino Wanderley

Nada retrata tão bem um amor forte, intenso, mas que, sem nenhuma explicação, tem uma brevíssima duração. Ele chega, invade o corpo e alma, e vai embora sem avisar e sem pedir licença. Enche o coração e o peito de amor até transbordar e, num piscar de olhos, tudo seca. Rápido como chegou. Então é a hora de dizer:

“Podemos ser amigos simplesmente, coisas do amor nunca mais”.

Voltamo-nos aos amores de outrora em busca de alguma explicação para tamanha celeridade e nada encontramos. Tudo igual. Restaram mágoas? Sumiram ao sabor do tempo. Durou só aquele instante e nada mais. Por isso:

“Amores do passado, no presente, repetem velhos temas tão banais. Ressentimentos passam com o vento, são coisas de momento. São chuvas de verão”.

As pessoas que vivem dessa forma – ora felizes, ora tristes – mas sempre dispostos a um novo amor, carregam dentro de si o doloroso peso da incerteza. Tão presente, de forma que isso passa a fazer parte do “Eu” de cada uma delas. Acostumadas, aguardam que mais esse amor vá para a empoeirada prateleira das recordações antes de mais um vendaval. Então, por momentos, a racionalidade toma as rédeas da vida. Daí:

“Trazer uma aflição dentro do peito é dar vida a um defeito que se extingue com a razão”.

Os corações, plenos de amor e sonhos, palpitavam ao pensar nos seus amores. As almas andavam juntas. De mãos dadas. O desejo povoava as cabeças dos amantes. A vontade de estar juntos cada minuto do dia era quase incontrolável! Mas, um dia, de repente:

“Estranha no meu peito, estranha na minh’alma, agora eu tenho calma, não te desejo mais”.

E, mais uma vez, o abraço vira um adeus. Acabou-se o amor. Foi-se o desejo. As almas estão separadas. Assim, com uma lágrima de saudade a cair por um olho, e o brilho do futuro a cintilar no outro, é hora de dizer:

“Podemos ser amigos simplesmente. Amigos, simplesmente e nada mais”.

 

Obs.: os trechos entre aspas são da música Chuvas de Verão, de Fernando Lobo.

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